Seguidores

domingo, 28 de junho de 2020




A censura no Regime Militar foi realmente tão ruim? (parte 1) 




A Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP) tinha como função principal atuar no controle do marxismo cultural dos comunistas es ataques ao regime, tanto por motivos políticos quanto em defesa da moral e dos bons costumes. Eram proibidas peças teatrais, filmes, livros e principalmente músicas, que faziam apologia ao comunismo e aos ideais marxistas e que atentavam contra a moral social ou que instigavam as pessoas a se rebelarem contra o governo. E qual o mal nesses controles? Vocês acreditam mesmo que a liberdade irrestrita é inofensiva? 


Entre 1968 a 1978, a censura do governo federal coibiu mais de seiscentos filmes, quinhentas peças teatrais, sem falar dos sem número de músicas. 


Em 21 de janeiro de 1970 foi instaurado o Decreto-Lei nº 1.077que instituiu a censura prévia, exercida de dois modos: ou uma equipe de censores instalava-se permanentemente na redação dos jornais e das revistas, para decidir o que poderia ou não ser publicado, ou os veículos eram obrigados a enviar antecipadamente o que pretendiam publicar para a Divisão de Censura do Departamento de Polícia Federal, em Brasília. 


O controle sobre a imprensa já havia sido regulamentado pela Lei nº 5.250, de 9 de fevereiro de 1967, a Lei de Imprensa, que obviamente restringia a liberdade de expressão. No entanto, a situação se tornou mais severa com a edição do AI-5, bem como com a do Decreto-Lei nº 898, denominado Lei de Segurança Nacional (LSN), de 29 de setembro de 1969, complementada no ano seguinte pelo Decreto-Lei nº 1.077. Mas a censura também era exercida informalmente, por meio de telefonemas e comunicados por escrito ("bilhetinhos") proibindo a publicação de determinados assuntos. 


Para os progressistas a censura representa uma forma violenta de cercear o espírito revolucionário que surge da quebra dos tabus, por isso lutam tanto contra os conceitos morais defendidos principalmente pelo cristianismo e particularmente pelos conservadores cristãos. 


Mas, será que censurar algo é de fato algo assim tão nocivo e cruel? 


A censura sempre existiu no Brasil, não é algo exclusivo do Regime Militar. Pra falar a verdade ela existiu também até muitos antes e depois do fim deste. 


Vejamos alguns exemplos: 



Censura no Período Colonial 


A coroa portuguesa possuía uma listagem de obras que não podiam circular em seus territórios incluindo todas as suas colônias. Foram proibidas de circular principalmente obras de teor iluminista ou que criticassem a Igreja Católica e a monarquia absolutista instituída em Portugal. 


Censura no Estado Novo 


Durante o período do Estado Novo, além de haver uma grande censura aos meios de comunicação, exilando e torturando jornalistas e intelectuais que faziam críticas ao regime, foi também instituído uma espécie de culto à personalidade ao ditador Getúlio Vargas (lembremos, ele era esquerdista), semelhante à adoração que havia a Adolf Hitler e a Benito Mussolini na Alemanha e na Itália, respectivamente. A figura do ditador se tornou onipresente em cartazes, fotografias, selos, moedas, etc. 


Em dezembro de 1939, foi criado o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), que era encarregado do aparato de censura e da propaganda oficial. Entre os meios de propaganda oficial estavam a criação de cartazes enaltecendo a figura de Vargas e os seus grandes feitos para o país. O DIP tornou obrigatória a foto do ditador em todos os ambientes comerciais (numa reprodução dos métodos implantados na Alemanha pelo ministro de propaganda nazista Joseph Goebbels, mentor de Filinto Muller, chefe de polícia do Distrito Federal e notório torturador). 



Vejamos alguns casos que foram censurados no Regime Militar e alguns que hoje são considerados produtos de uma democracia e de um estado que respeita a livre expressão e quem sabe assim possamos chegar à conclusão que censurar também é democrático e que faz um bem danado à conservação dos bons preceitos e da qualidade nas produções artísticas. 



Censura no cinema: 





Nos cinemas, Terra em Transe, filme de Glauber Rocha foi proibido no Brasil, em 1967. O teor da película foi considerado irreverente e subversivo e frases como “a praça é do povo e o céu é do condor” foram tidas como ameaças ao regime vigente. Pouco depois, entretanto, os censores mudaram de ideia e decidiram liberar o título. “Eles achavam que poderiam permitir a exibição de certos filmes porque eram incompreensíveis para o povo brasileiro, em um claro menosprezo pelo povo e pelos cinéfilos”, afirmou Fabiano Canosa, produtor cultural responsável pela programação do Cine Paissandu, no Rio de Janeiro (RJ), símbolo de resistência da época. 


Para José Mojica Marins, o Zé do Caixão, a censura foi calcada na percepção pessoal do sensor sobre o que seria verdadeiramente um filme artístico. O filme “À Meia Noite Encarnarei em teu Cadáver” não só foi proibido como a analista de censura deu a seguinte justificativa: “se não fugisse à minha alçada, seria o caso de sugerir a prisão do produtor pelo assassinato à Sétima Arte, pois não foi outra coisa que ele realizou ao rodar o presente filme“. Tempos depois, caso semelhante se deu no filme “Ritual dos Sádicos”, em que o censor avaliou que era necessário evitar “que se levasse algo indesejável e asqueroso ao público”. 



Em 1969, o filme “Macunaíma“, baseado no livro de Mário de Andrade e dirigido por Joaquim Pedro de Andrade, teve uma cena cortada: o censor identificou na roupa de uma das personagens o símbolo da Aliança para o Progresso, organização à qual o regime era contra. E nem mesmo Stanley Kubrick passou incólume pelas mãos da censura: Laranja Mecânica, lançado em 1971, só saiu no Brasil em 1978. Nas cenas de nudez e sexo, bolinhas pretas cobriam as genitálias e os seios dos atores. 


No entanto, para muitos críticos do Regime Militar, essas ações denotavam um certificado de falso moralismo, já que enquanto escondiam mamilos nas cenas de Kubrick, se esbaldavam em um dos gêneros que mais faziam sucesso por aqui: a pornochanchada. O gênero, gravado principalmente em São Paulo (SP), em uma região do centro conhecida como Boca do Lixo, consistia em uma mistura de comédia e erotismo que não demorou para conquistar o público. 


Algumas pornochanchadas foram baseadas nos livros de Cassandra Rios, a autora que mais foi censurada na ditadura e que usava desse título para alavancar as vendas – “Um novo sucesso da autora mais proibida na Brasil“, lê-se em uma das capas. 


Muitos diretores de pornochanchadas adotavam estratégias curiosas para proteger suas obras da censura: inseriam cenas de nudez e sexo muito mais explícitas do que gostariam. Assim, os censores costumavam cortar essas cenas, liberando as mais contidas que, na verdade, eram as que o diretor queria. Ao analisar filmes do gênero, muito mais do que procurar ameaças ao regime, era a moral e os bons costumes que estavam em jogo. Mas nessa missão, talvez esses profissionais se vissem em um confronto entre liberdade e a repressão e entre desejos e proibições. 


Talvez a explicação para as permissões dos filmes da Boca do Lixo seja o fato de que estes filmes eram restritos as salas de cinemas onde somente maiores de idade podiam ter acesso. De forma alguma essas produções passavam na TV. 




Amor Estranho Amor 


O filme Amor estranho amor era restrito as telas de cinema sendo proibida sua produção em fitas de VHS e comercialização em locadoras. 


Xuxa Meneghel, antes de ganhar o título de Rainha dos Baixinhos ao apresentar programas infantis nas redes Manchete e Globo, fez parte do elenco do filme Amor Estranho Amor, um filme de drama erótico que contou também com Tarcísio Meira e Vera Fischer no elenco. No filme, a personagem de Xuxa tem relações sexuais com um garoto de 12 anos, interpretado pelo ator Marcelo Ribeiro. Mas é uma grande injustiça citar apenas ela já que outras atrizes como a Matilde Matrange e Vera Ficher (que era a mãe do garoto na película) também se envolveram sexualmente com o menino na trama. Como no contrato não havia liberação da imagem para vídeo, Xuxa, através de liminar judicial, mandou recolher todas as fitas originais de locadoras e lojas do país, no entanto 4.000 cópias chegaram a ser vendidas antes da Justiça proibir sua distribuição, o que fez com que muitas cópias piratas continuassem circulando, fazendo do filme uma verdadeira lenda entre pessoas que não conheciam a obra. Até hoje, o filme Amor Estranho Amor tem sua comercialização e distribuição proibidas por decisão judicial no Brasil. Todavia, o filme foi lançado em DVD nos Estados Unidos em 2005 e pode ser adquirido por qualquer brasileiro em sites estrangeiros por importação. A produtora estadunidense não vendeu os direitos a Xuxa, que chegou a entrar com ação judicial nos Estados Unidos em 1993, mas perdeu. 




Censura na TV: 




Novelas 


Várias novelas de televisão foram censuradas por diferentes motivos que vão do moralismo ao controle ideológico. Entre elas: 



“Selva de Pedra” teve seu enredo modificado quando já estava em exibição, em 1972. A primeira versão de “Roque Santeiro”, de Dias Gomes, foi proibida, bem como “Pedreira das Almas”, de Jorge Andrade. Pixote, de Hector Babenco, rodada em 1980, só foi liberada cinco anos depois e com diversas cenas tesouradas. A implicância dos censores era bastante arbitrária. Prova disso foi uma discussão que houve sobre a palavra “cocô”, dita na novela “Escalada”, de Lauro César Muniz, em 1975. 


Por diversas vezes os atos de censura atingiram o nível surreal, uma delas quando o então Ministro da Justiça Armando Falcão, do governo Geisel, proibiu que o ballet “O Lago dos Cisnes” fosse exibido na TV, pois seria performado pela companhia Bolshoi, que é russa – vale lembrar: a Guerra Fria dividia o mundo nesse período e o Brasil andava na panelinha dos EUA. Enquanto se importava com isso, a censura deixava passar novelas como “O Grito”, em 1975, de Mário Gomes, que contava a história de uma criança que gritava toda noite – uma metáfora sobre o silêncio e a censura. 


“[Os censores] não tratavam a arte como forma de revolução. Mas os laudos da censura eram, muitas vezes, justificativas para vetos que já estavam definidos para determinados autores, atores e temas. A censura, antes de tudo, é uma relação de poder entre pessoas e não do censor quanto ao texto. O texto é só um pretexto. O Estado precisava achar algo para demonstrar que tinha poder. Então, nem sempre faz sentido porque não é o que importa. É a relação de poder, o medo da repressão e do prejuízo econômico”, explicou Cristina Costa, diretora do Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura da USP, em entrevista ao UOL. 


Nos primeiros meses de 1977, a Globo lutava em Brasília pela liberação da novela “Despedida de Casado”, de Walter George Durst, integralmente vetada pela Censura Federal por causa do tema principal – uma história sobre a separação de um casal. 


Os pareceres das censoras envolvidas no caso falam da preocupação com “os efeitos colaterais que essa novela possa trazer ao público ao assistir e viver os dramas destes casais neurotizados”. 


Elas reclamam da indicação da psicanálise (terapia de grupo) como solução para os problemas e enxergam na trama de Durst a “destruição de valores básicos da instituição do casamento, falsidade e corrupção de costumes, em grau intolerável para a televisão”. 



A novela Roque santeiro foi censurada por três momentos no Brasil: como peça teatral chamada Berço do Herói em 1965, quando novela em 1975 e, finalmente, exibida em 1985 na rede Globo, porém com cerca de 600 paginas subtraídas. 




Era recheada de críticas a Igreja Católica, fazia referência ao MST, onde um padre comunista, padre Albano interpretado por Cláudio Cavalcanti que representava a Teologia da Libertação, entrava em confronto com o Padre Hipólito que representava a ala conservadora da Igreja Católica. Padre Albano larga a batina para vive um amor. Também tinha fortes críticas aos empresários, políticos e promovia a degradação sexual com o bordel Boate Copacabana. O herói é um anti herói que não passava de uma grande farsa. Essas e outras situações eram consideradas pelos censores ofensas aos preceitos morais e religiosos vigentes. 


 


Babilônia (2015) 


Às vezes a censura vinha da própria população que é em sua grande maioria conservadora e cristã. Em “Babilônia” (2015), por exemplo, os autores mudaram drasticamente a novela ao aceitar a pressão de parte do público em questões morais e de costumes. 


“Os Deuses Estão Mortos” (1971) 


Houve censor que se deu ao trabalho de cronometrar a duração de um beijo (22 segundos) e pedir que fosse reduzido para cinco segundos, em um capítulo de “Os Deuses Estão Mortos” (1971), exibida pela Record. Não lhe parece que a tal censura dos militares era muitas das vezes até extremamente ingênua e inofensiva? 



· Brega & Chique 


A abertura da novela Brega & Chique causou polêmica, pois aparecia um homem nu com as nádegas expostas. A classificação geral exigiu que o homem fosse velado, e a Rede Globo pôs uma folha sobre as nádegas do modelo. Na reprise do Vale a Pena Ver de Novo, a novela sofreu a mesma censura. 



Certificado de Liberação de exibição, com ressalvas, da Telenovela Roque Santeiro, 1985. Documento sob guarda do Arquivo Nacional. 


· Bandeira 2 - Rede Globo - 1971 


A Censura exigiu que o autor Dias Gomes matasse o personagem Tucão (Paulo Gracindo), sob o argumento de que o bem sempre vence o mal. 


· Fogo sobre Terra - 1974 


Em uma das cenas, o personagem principal, Pedro (Juca de Oliveira) incitava o povo da cidade a pegar em armas para defendê-la. Os censores cortaram a cena alegando que o gesto era um incentivo à guerrilha. 


· Anjo Mau - 1976 


No último capítulo, a babá Nice, interpretada por Susana Vieira, morre ao dar a luz, contrariando o desejo do autor Cassiano Gabus Mendes de que a personagem terminasse a novela feliz ao lado de Rodrigo, personagem de José Wilker. Foi uma imposição da censura, pelo mesmo argumento da morte do personagem de Bandeira 2. 


Amor e Revolução (2011) 


Em 2011 foi estreado a novela Amor e Revolução do SBT, baseada na fase da ditadura militar no Brasil. A poucas semanas antes de estrear, houve petições de órgãos conservadores para que a novela não fosse ao ar, pelos motivos de expor o regime militar, porém os atores mobilizaram-se contra o processo e a novela passou a ser apresentada. 


· O Marajá 


O Marajá foi uma minissérie brasileira que estrearia pela Rede Manchete em 26 de julho de 1993 (no horário habitual das telenovelas, 21h30) em substituição a Amazônia - Parte II. A trama mostraria a vida de Fernando Collor de Mello na época em que era presidente do Brasil. Porém a novela não foi ao ar, pois o próprio Fernando Collor entrou com uma ação judicial e a novela não pode ser apresentada. 





Os Simpsons 

A culpa é de Lisa 


O episódio foi bastante criticado pela Riotur e pela Secretaria de Turismo do Rio de Janeiro e foi proibido de ser exibido no Brasil na época de seu lançamento, mas foi adicionado ao DVD da temporada. Porém, em 2014 e 2015, foi exibido pelo canal pago Fox e também na Band. No episódio, os Simpsons vêm ao Brasil e encontram um país cheio de marginalidades, programas educacionais de televisão altamente sexuais e outras precariedades. 





Fontes: 


https://www.politize.com.br/censura/ 


https://controversia.com.br/2017/01/17/livro-mostra-como-censura-impos-discurso-conservador-na-tv/ 


https://www.hypeness.com.br/2017/09/em-momento-de-debate-sobre-censura-relembre-10-musicas-proibidas-pela-ditadura-militar/ 


https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/censura-o-regime-militar-e-a-liberdade-de-expressao.htm?cmpid=copiaecola