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terça-feira, 6 de outubro de 2020





A origem comunista da suástica nazista


É bem conhecido que o Nazismo foi originado do Fascismo e este inventado por Mussolini, até então uma das principais lideranças do Partido Socialista Italiano. O que é pouco divulgado é que os nazistas foram buscar seu principal emblema, a suástica, e a cor vermelha de sua bandeira, entre os símbolos adotados pelos revolucionários comunistas nos primeiros anos da União Soviética. Antes da II Guerra Mundial, comunistas e nazistas mantiveram colaboração que incluía tratado de não agressão e estudos de eugenismo.



Primeiro dinheiro soviético, 1918. Apresenta
 suástica ao fundo. Valor de 10.000 rublos.

Diferentemente do que muitos acreditam, a Revolução Russa não foi iniciada pelos comunistas. Em 27 de fevereiro de 1917, um Governo Provisório sem comunistas foi formado; o Czar Nicolau II, o Imperador da Rússia, ainda tentou resistir, mas no mês seguinte renunciou ao poder em favor de seu irmão, que renunciou em seguida.

Nota de 1.000 rublos emitida em 1917 
pelo Governo Provisório com suástica ao fundo.

O Governo Provisório, porém, não foi competente para se impor ao paralelo organizado pelos comunistas, cujos líderes principais, sabendo da deposição do Czar, haviam retornado ao país. Já em outubro de 1917, com pouco apoio entre os trabalhadores, mas significativa infiltração nas forças armadas, os bolcheviques, a ala predominante entre os comunistas, assumiram o poder, eliminando o Governo Provisório e depois diversas resistências na Guerra Civil Russa, que durou de 1918 a 1921. Em 1922, foi fundada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Carro do Czar Nicolau II exibindo suástica. O símbolo transitou do Czarismo ao Comunismo, de onde foi copiado pelos nazistas.

A suástica foi usada como um símbolo para ‘socialismo’, tanto pela URSS como pelo Partido Socialista Nacional dos Trabalhadores Alemães, o Partido Nazista. A suástica já aparecia em notas russas emitidas pelo Governo Provisório e foi mantida pelo governo comunista nas suas cédulas emitidas em 1918. Até 1923, a URSS manteve a emissão de notas com o símbolo, as quais permaneceram em circulação até 1926. Hitler tornou-se chanceler da Alemanha em 1933, mas desde 1920 já adotava um bandeira vermelha com o símbolo ao centro, assumindo explicitamente imitar a estética da propaganda comunista.

Na Rússia, a suástica aparecia em diversos itens governamentais, sendo as notas de dinheiro os mais notórios.

  Passaporte do Exército soviético com suástica.

Explorar a religião para propagar o Comunismo não foi uma inovação da Teologia da Libertação. Já na Guerra Civil Russa, observando a reprodução da suástica entre seguidores do Budismo, religião predominante entre diversos povos do Sul do país, o governo comunista acrescentou uma ao centro da estrela de cinco pontas, emblema mais antigo do Comunismo e símbolo do próprio Exército Vermelho.

Calmuques, povo do Sul da Rússia, recrutados para o Exército Vermelho, exibindo a estrela comunista com suástica adicionada pelos governo bolchevique.

Os passaportes do Exército soviético apresentavam uma suástica circundada por louros e com uma estrela em sua parte superior, sob um fundo vermelho. Além da suástica, o vermelho também seria adotado pelos nazistas.

Em destaque, marca do carimbo do Conselho Provincial de Moscou colocada em documento assinado por parlamentares, em 1920.

Houve também um remendo de ombro do Exército vermelho com uma suástica nele que foi usado durante a Guerra Civil Russa ocorrida após a revolução bolchevique.

 Nota de 250 rublos com águia e suástica emitida pelo Governo Provisório, em 1917.

O governo soviético também usou o inglês, o alemão e outras línguas em suas notas como um meio de divulgação do Comunismo.

A foice e o martelo

A foice e martelo tornaram-se um símbolo comunista em 1917, oficializado em 1918, com a interferência de Vladimir Lenin no desenho final: o líder bolchevique rejeitou a inclusão da espada no emblema. Os mesmos elementos também foram imitados pela propaganda nazista.

 Broches nazistas comemorativos do Dia do Trabalhador, de 1934 e 1936. Hitler chegara ao comando da Alemanha em 1933. Os nazistas adotavam símbolos comunistas como foice, martelo e arado.

Não eram adornos exclusivos dos comunistas. A combinação “foice e martelo” apareceu pela primeira vez em moedas do Chile, em 1894.

Swastika ou Hakenkreuz?

Embora houvesse em alemão a palavra Swastika (com origem no sânscrito स्वस्तिक, referente a um sinal indiano de boa sorte, mas também presente em diversas culturas com variados usos e significados), os nazistas referiam-se ao seu símbolo com a palavra Hakenkreuz (pronuncia-se ‘raquencros’), de Haken, gancho, e Kreuz, cruz – em tradução livre, ‘cruz-de-gancho’ ou ”cruz-gancho’.

Embora muito parecida na forma com a milenar suástica dos templos hindus e budistas, a Hakenkreuz foi elaborada no início do séc. XX, época em que desenho idêntico aparecia impresso nas notas de dinheiro da União Soviética. Na bandeira nazista, simbolizava a luta e o trabalho; o círculo branco, o alegado nacionalismo; e o vermelho, o socialismo.

No seu livro Mein Kampf, o líder nazista Adolf Hitler, registrou o processo de elaboração da bandeira nazista, e se referiu ao simbolismo da Hakenkreuz para o nazismo da seguinte forma:


“Como socialistas nacionais, vemos em nossa bandeira nosso programa. Em vermelho, vemos a idéia social do movimento; em branco, a [idéia] nacionalista; na suástica [Hakenkreuz], a missão da luta pela vitória do homem ariano e ao mesmo tempo com ele também a vitória da ideia do trabalho criativo, que em si era eternamente anti-semita e anti-semita será.”*

Segundo Hitler, a bandeira finalizada foi apresentada pela primeira vez ao público no verão de 1920; na maioria das propostas, a Hakenkreuz era acrescentada à antiga bandeira alemã, de cores preta, vermelha e branca.

Monumentalismo: a propaganda nazista buscava causar impacto visual, imitando a comunista. O uso da suástica pelos nazistas ocorreu contemporaneamente ao seu uso pelos comunistas na Rússia.

A

A inspiração comunista

Hitler dedica três páginas de seu livro para tratar sobre a elaboração da bandeira nazista. Ele destaca o impacto que símbolos podem causar no povo e a necessidade de um para se contrapor aos comunistas e registra que ficou impressionado com uma manifestação marxista que presenciou:


“A organização do nosso serviço de ordem veio esclarecer uma questão importantíssima. Até então o movimento não possuía, nem insígnias nem estandarte próprios do Partido. A falta de semelhantes emblemas não só apresentava desvantagens no momento, como se tornava indefensável no futuro. As desvantagens consistiam, no presente, na falta de um símbolo para exprimir a solidariedade dos correligionários e, de futuro, não seria possível dispensar um sinal distintivo do movimento que pudesse servir de oposição à ‘Internacional’.

“Já na minha juventude, tinha tido, muitas vezes, a ocasião de sentir e compreender a significação psicológica de símbolos dessa ordem. Depois da Guerra, presenciei uma grande manifestação dos marxistas diante do Palácio Real, no Lustgarten. Uma imensidade de bandeiras, de faixas e de flores vermelhas davam a essa manifestação, na qual tomavam parte, aproximadamente, cento e vinte mil pessoas, uma aparência formidável. Pude sentir com que facilidade o homem do povo é empolgado pela magia sugestiva de um tal espetáculo.”

Segundo Hitler, a adoção da estética e do linguajar comunistas causou suspeitas entre os nacionalistas alemães sobre de que lado os nazistas realmente estavam. Hitler registra sua explicação para a imitação:


“Só a cor vermelha dos nossos cartazes fazia com que eles afluíssem às nossas salas de reunião. A burguesia mostrava-se horrorizada por nós termos também recorrido à cor vermelha dos bolchevistas, suspeitando, atrás disso, alguma atitude ambígua. Os espíritos nacionalistas da Alemanha cochichavam uns aos outros a mesma suspeita, de que, no fundo, não éramos senão uma espécie de marxistas, talvez simplesmente mascarados marxistas ou, melhor, socialistas. A diferença entre marxismo e socialismo até hoje ainda não entrou nessas cabeças. Especialmente, quando se descobriu, que, nas nossas assembléias, tínhamos por princípio não usar os termos ‘Senhores e Senhoras’ mas ‘Companheiros e Companheiras’, só considerando entre nós o coleguismo de partido, o fantasma marxista surgiu claramente diante de muitos adversários nossos. Quantas boas gargalhadas demos à custa desses idiotas e poltrões burgueses, nas suas tentativas de decifrarem o enigma da nossa origem, nossas intenções e nossa finalidade!

“A cor vermelha de nossos cartazes foi por nós escolhida, após reflexão exata e profunda, com o fito de excitar a Esquerda, de revoltá-la e induzi-la a freqüentar nossas assembléias; isso tudo nem que fosse só para nos permitir entrar em contato e falar com essa gente.”

A imitação do linguajar comunista também constava no Die Fahne hoch!, o hino do Partido Nazista:



“A bandeira ao alto! As fileiras cerradas!
As SA marcham em firme e corajoso passo.
Companheiros fuzilados pela Frente Vermelha e pelos Reacionários,Marcham em espírito nas nossas fileiras.”**


Colaboração entre nazistas e comunistas

Tanto comunistas quanto nazistas buscam rejeitar seus vínculos históricos e proximidades ideológicas.

Um exemplo sutil, mas não imperceptível, disto aparece nas traduções. Inversamente da língua portuguesa, em alemão os adjetivos em regra precedem o substantivo. O nome em alemão do Partido Nazista é ‘Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei‘, cuja tradução é Partido dos Trabalhadores Alemães Socialistas Nacionais. Nas traduções em língua portuguesa, porém, o caráter socialista do Partido Nazista tem sido atenuado e ‘Nationalsozialistische’ traduzido por ‘Nacional Socialista’.

O desfile conjunto dos exércitos nazista e comunista em Brest, cidade então pertencente à Polônia, em 22 de setembro de 1939. A solenidade marca o fim da invasão conjunta alemã e soviética, quando a Alemanha entrega a cidade à URSS. Na foto de cima, ao centro, o major-general Heinz Guderian, da Wehrmacht, e o brigadeiro Semyon Krivoshein, do Exército Vermelho, prestam continência. Na foto abaixo, outros militares comunistas e nazistas assistem ao desfile.

Até pouco antes da II Guerra Mundial, comunistas e nazistas mantiveram colaboração que incluía o Tratado Nazi-Comunista de Não Agressão, e trocas de informação em pesquisas sobre eugenia, especialidade que buscava a “melhoria” da espécie humana pelo controle da procriação.

NOTA

*No original,

“Als nationale Sozialisten sehen wir in unserer Flagge unser Programm. Im Rot sehen wir den sozialen Gedanken der Bewegung, im Weiß den nationalistischen, im Hakenkreuz die Mission des Kampfes für den Sieg des arischen Menschen und zugleich mit ihm auch den Sieg des Gedankens der schaffenden Arbeit, die selbst ewig antisemitisch war und antisemitisch sein wird“.

**No original,


Die Fahne hoch! Die Reihen fest geschlossen!
SA marschiert mit mutig-festem Schritt.
Kameraden, die Rotfront und Reaktion erschossen,
Marschieren im Geist in unseren Reihen mit.