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quarta-feira, 18 de novembro de 2020





Pode um homossexual ser um comunista? 
(Carta de Harry Whyte a Stalin, 1934 )





Um artigo sobre como, na União Soviética, as questões de identidade de gênero e de orientação sexual eram tratadas de forma preconceituosa e até criminosa na “revolução” comunista stalinista. 

O presente texto é uma carta a Joseph Stalin em que o comunista britânico Harry Whyte apresenta uma defesa marxista da homossexualidade à luz de sua neocriminalização na URSS, apresentada no livro Moscou (Ugly Duckling Presse, Brooklyn, 2013), o novo livro do artista Yevgeniy Fiks, que mora em Nova Yorque. O livro documenta os locais gays na Moscou Soviética, desde os inícios dos anos 1920 à dissolução da URSS no início dos anos 1990. É nítido que a aceitação da homossexualidade proposta por Harry Whyte não é uma questão humanitária, mas sim algo que só poderia ser aceito se estivesse atrelado a simpatia e a dedicação ao comunismo. Um camarada gay seria aceito como tal, se e somente si fosse um “bom camarada” (no sentido militante), caso contrário... 








Pode um homossexual ser membro do Partido Comunista? 

Harry Whyte 

Moscou, URSS 

Maio, 1934 

Camarada Stalin, 

O conteúdo de meu apelo é resumidamente o seguinte. O autor desta carta, membro do Partido Comunista da Grã-Bretanha, solicita uma fundamentação teórica do decreto de 7 de março do Comitê Executivo Central da URSS sobre [a instituição de] responsabilidade penal por sodomia (1). Uma vez que ele se esforça por se aproximar desta questão a partir de um ponto de vista Marxista, o autor desta carta acredita que o decreto contradiz tanto os fatos da própria vida quanto os princípios do Marxismo-Leninismo. 

Aqui está um sumário dos fatos que são discutidos em detalhe na carta anexa: 

1. Em geral, a condição dos homossexuais sob o capitalismo é análoga à condição das mulheres, das raças de cor, das minorias étnicas e de outros grupos que são reprimidos por uma razão ou outra; 

2. A atitude da sociedade burguesa em relação à homossexualidade está baseada na contradição entre: 

A) A necessidade do capitalismo de “carne de canhão” e de um exército de reserva de mão-de-obra (levando a leis repressivas contra a homossexualidade, que é considerada como uma ameaça às taxas de natalidade); 

B) A pobreza crescente das massas sob o capitalismo (levando ao colapso da família da classe trabalhadora e ao aumento da homossexualidade). 

3. Esta contradição somente pode ser resolvida em uma sociedade onde a liquidação do desemprego e o constante crescimento do bem-estar material dos trabalhadores promovam condições em que as pessoas que são normais no sentido sexual possam se casar. 

4. A ciência confirma que uma percentagem insignificante da população sofre de homossexualidade inata. 

5. A existência desta minoria insignificante não é uma ameaça à sociedade sob a ditadura do proletariado. 

6. A nova lei sobre a homossexualidade provocou as mais variadas e contraditórias interpretações. 

7. A lei de 7 de março contradiz fundamentalmente o princípio básico da lei anterior sobre a questão. 

8. A lei de 7 de março pede essencialmente a “aniquilação” no âmbito da vida sexual. 

9. A lei de 7 de março é absurda e injusta do ponto de vista da ciência, que provou a existência de homossexuais inatos e não tem meios a sua disposição para mudar a natureza sexual dos homossexuais. 






Estimado camarada Stalin: 

Embora eu seja um comunista estrangeiro que ainda não foi promovido ao AUCP(b) (2), no entanto penso que não vai parecer natural para você, o líder do proletariado mundial, que me dirija a você com um pedido para se lançar luz sobre uma questão que, ao que me parece, tem grande significado para um grande número de comunistas na URSS bem como em outros países. 

A questão é a seguinte: pode um homossexual ser considerado alguém digno de pertencer ao Partido Comunista? 

A lei recentemente promulgada sobre responsabilidade criminal por sodomia, que foi confirmada pelo Comitê Central Executivo da URSS em 7 de março deste ano, aparentemente significa que os homossexuais não podem ser reconhecidos como dignos do título de cidadãos soviéticos. Consequentemente, devem ser considerados ainda menos dignos de serem membros do AUCP(b). 

Uma vez que tenho interesse pessoal nesta questão, na medida em que sou homossexual, dirigi esta pergunta a vários dos camaradas da OGPU e do Comissariado do Povo para a Justiça, a psiquiatras e ao camarada Borodin, o editor em chefe do jornal onde trabalho (3).




Tudo o que consegui obter deles foi um certo número de opiniões contraditórias que mostram que entre esses camaradas não há uma compreensão teórica clara do que pode ter servido de base para a aprovação de tal lei. O primeiro psiquiatra de quem busquei ajuda duas vezes com esta questão assegurou-me (depois de verificar isto junto ao Comissariado do Povo para a Justiça) que se eles são cidadãos honestos ou bons comunistas, seus pacientes podem organizar suas vidas pessoais como melhor lhes pareça. O camarada Borodin, que disse que ele pessoalmente tinha uma visão negativa da homossexualidade, ao mesmo tempo declarou que me considera como um comunista bastante bom, que poderia ser de confiança e que eu poderia levar minha vida pessoal como eu quisesse. Um pouco antes, quando a prisão de homossexuais tinha apenas começado, o camarada Borodin estava bastante indisposto em me ver como um delinquente potencial; ele não me considera um mau comunista, e isto foi confirmado pelo fato de que me promoveu no trabalho nomeando-me chefe da equipe editorial, que é a posição de supervisão mais elevada, à exceção dos membros do comitê editorial. Algo mais tarde, quando a versão de 17 de dezembro da lei já existia, mas antes do decreto de 7 de março, entrei em contato com a OGPU em conexão com a prisão de certa pessoa com quem eu tive relações homossexuais. Disseram-me que não havia nada que me incriminasse (Mas, em relação a tal “certa pessoa”???). 

Todas estas declarações produziram a impressão de que os órgãos de justiça soviéticos não processam a homossexualidade como tal, apenas alguns homossexuais socialmente perigosos. Se este é realmente o caso, então há necessidade de uma lei geral? 

No entanto, por outro lado, depois que a lei foi emitida em 7 de março, eu tive uma conversa na OGPU na qual me disseram que a lei se aplica estritamente a todos os casos de homossexualidade que sejam trazidos à luz. 

Em relação à falta de claridade que existe nesta matéria, dirijo-me a você na esperança de que você encontrará tempo para me dar uma resposta. 

Permita-me explicar-lhe como entendo esta questão. 

Em primeiro lugar, gostaria de assinalar que vejo a condição dos homossexuais que são de origem operária ou mesmo trabalhadores como análoga à condição das mulheres sob o regime capitalista e das raças de cor que são oprimidas pelo imperialismo. Esta condição também é similar em muitos aspectos à condição dos judeus sob a ditadura de Hitler, e em geral não é difícil ver nisto uma analogia com a condição de qualquer camada social submetida à exploração e perseguição sob domínio capitalista. 

Quando analisamos a natureza da perseguição de homossexuais, devemos ter em mente que existem dois tipos de homossexuais: em primeiro lugar, os que são do jeito desde que nasceram (além disso, se os cientistas discordam sobre as razões precisas disto, então não há discordância de que existem certas razões profundas); em segundo lugar, existem homossexuais que tiveram uma vida sexual normal, mas depois se tornaram homossexuais, algumas vezes por maldade, algumas vezes por considerações econômicas. 

Para o segundo tipo, a questão se resolve de forma relativamente simples. Pessoas que se tornam homossexuais em virtude de sua depravação em geral pertencem à burguesia, vários de cujos membros tomam este caminho de vida depois de se sentirem saciados com todas as formas de prazer e perversidade que estão disponíveis nas relações sexuais com mulheres. Entre aqueles que levam esta forma de vida por considerações econômicas, encontramos membros da pequena burguesia, do lumpenproletariado e (por mais estranho que possa parecer) do proletariado. Em consequência da escassez material, particularmente agravada durante períodos de crise, estas pessoas são forçadas temporariamente a se voltar para este método de satisfazer seus impulsos sexuais na medida em que a falta de meios lhes priva da possibilidade de casar ou pelo menos de contratar os serviços de prostitutas. Existem também aqueles que se tornam homossexuais não para satisfazer seus impulsos, mas para ganhar seu sustento através da prostituição (este fenômeno se espalhou particularmente na moderna Alemanha). 

Mas a ciência estabeleceu a existência de homossexuais inatos. A investigação demonstrou que os homossexuais deste tipo existem em proporções aproximadamente iguais dentro de todas as classes da sociedade. Igualmente, pode-se considerar como fato estabelecido que, com pequenos desvios, os homossexuais em geral constituem em torno de dois por cento da população. Se aceitarmos esta proporção, segue-se que existem em torno de dois milhões de homossexuais na URSS. Sem mencionar o fato de que entre estas pessoas existem, sem dúvida, os que estão ajudando na construção do socialismo, pode ser possível, como exige a lei de 7 de março, que um número tão grande de pessoas seja submetido à prisão? 

Assim como as mulheres da classe burguesa sofrem em grau significativamente menor das injustiças do regime capitalista (você naturalmente se lembra do que disse Lênin a respeito), também os homossexuais natos da classe dominante sofrem muito menos da perseguição do que os homossexuais do meio operário. Deve-se dizer que mesmo dentro da URSS há condições que complicam as vidas cotidianas dos homossexuais e que frequentemente os colocam em situação difícil. (Tenho em mente as dificuldades para se encontrar um parceiro para o ato sexual, na medida em que os homossexuais constituem uma minoria da população, uma minoria que é forçada a esconder suas verdadeiras inclinações em um grau ou outro). 

Qual a atitude da sociedade burguesa para com os homossexuais? Mesmo se levarmos em conta as diferenças existentes a este respeito na legislação de vários países, podemos falar de uma atitude especificamente burguesa nesta questão? Sim, podemos. Independentemente destas leis, o capitalismo é contra a homossexualidade em virtude de toda a sua tendência de classe. Esta tendência pode ser observada através do curso da história, mas se manifestou com força especial durante o período da crise geral do capitalismo. 

O capitalismo, que necessita de um enorme exército industrial de reserva e de carne de canhão para florescer, considera a homossexualidade como um fator que ameaça com menores taxas de natalidade (como sabemos, nos países capitalistas existem leis que punem o aborto e outros métodos de concepção). 

Naturalmente, a atitude da burguesia para com a questão homossexual é pura hipocrisia. Leis estritas são causa de poucos incômodos para o homossexual burguês. Quem estiver familiarizado com a história interna da classe capitalista sabe dos escândalos periódicos que surgem a este respeito: além do mais, membros da classe dominante envolvidos nestes assuntos sofrem em grau insignificante. Posso citar um fato pouco conhecido a este respeito. Vários anos atrás, um dos filhos do Lord e Lady Astor foi condenado por homossexualidade. A imprensa inglesa e americana se omitiu de informar sobre isto, com a exceção do Morning Advertiser. Este jornal é de propriedade de fabricantes de cerveja, e era de seu interesse comprometer Lord e Lady Astor, que tinham agitado pela introdução da proibição. Assim, o fato da [condenação de Astor] tornou-se conhecido graças às contradições dentro da classe dominante. 

Graças a sua riqueza, a burguesia pode evitar a punição legal que desce com toda a sua severidade sobre os trabalhadores homossexuais com exceção dos casos em que estes últimos se prostituíram com membros da classe dominante. 

Já mencionei que o capitalismo, que tem necessidade de carne de canhão e de um exército de reserva de mão-de-obra, tenta combater a homossexualidade. Mas, ao mesmo tempo, através da piora das condições de vida dos trabalhadores, o capitalismo produz as condições objetivas para o aumento do número de homossexuais que adotam este estilo de vida em virtude de necessidades materiais. 

Esta contradição se refletiu no fato de que o fascismo, que empregava o pederasta [Marinus] van der Lubbe (4) como arma em sua provocação, ao mesmo tempo em que suprimia brutalmente o movimento da intelligentsia liberal de “libertação” dos homossexuais, dirigido pelo Dr. Magnus Hirschfeld (5). (Ver o Brown Book, que cita o caso de Hirschfeld como um exemplo da barbárie anti-cultural dos fascistas) (6). 

Outro reflexo desta contradição é a figura de André Gide, escritor homossexual francês, dirigente do movimento antifascista e ardoroso amigo da URSS. O público em geral na França sabe da homossexualidade de Gide porque ele escreve sobre isto abertamente em seus livros. E, no entanto, sua autoridade entre as massas como um companheiro de viagem do partido comunista na França não foi abalada. O fato de Gide ter-se juntado ao movimento revolucionário não impediu seu crescimento ou o apoio das massas à liderança do partido comunista. Na minha opinião, isto demonstra que as massas não são intolerantes com os homossexuais. 

Elogiando a “pureza da raça” e os valores familiares, o fascismo adotou uma posição ainda mais dura contra a homossexualidade do que o governo pré-Hitler. Contudo, porque o fascismo destrói a família da classe trabalhadora e promove o empobrecimento das massas, ele estimula essencialmente o desenvolvimento do segundo tipo de homossexualidade que descrevi – isto é, [a homossexualidade] em casos de necessidade. 

A única solução para esta contradição é a transformação revolucionária da ordem existente e a criação de uma sociedade em que a ausência do desemprego, a crescente prosperidade das massas e a liquidação da família como unidade econômica, assegurem as condições nas quais ninguém será forçado à pederastia em casos de necessidade. Quanto aos chamados homossexuais inatos, enquanto percentagem insignificante da população, eles são incapazes de ameaçar a taxa de natalidade no estado socialista. 

“Os resultados gerais do crescimento da prosperidade material levaram ao fato de que, enquanto as taxas de mortalidade cresceram junto à pobreza nos países capitalistas, a mortalidade decresceu e as taxas de natalidade aumentaram na URSS. Comparada aos anos pré-guerra, a população na URSS aumentou em um terço, enquanto na Europa capitalista caiu em dez por cento. Hoje, nosso país com sua população de 165 milhões de habitantes mostra o mesmo aumento da população que a Europa capitalista com sua população de 360 milhões de habitantes. Como você pode ver, neste assunto o ritmo aqui é furioso (risos) ” (Informe do camarada Kaganovich sobre o trabalho do Comitê Central do AUCP(b) na conferência da organização de Moscou – os itálicos são do camarada Kaganovich). 



Apesar das leis inusitadamente severas sobre o matrimônio que existem nos países capitalistas, a perversão no âmbito da vida sexual normal é significativamente mais disseminada nos países capitalistas do que na URSS, onde as leis sobre o matrimônio são mais livres e mais racionais do que no restante do mundo. É verdade, sabemos que nos primeiros anos da Revolução certas pessoas tentaram abusar da liberdade proporcionada pelas leis matrimoniais soviéticas. No entanto, estes abusos não foram detidos por medidas repressivas, mas pela amplitude da educação política e do trabalho cultural, e pela evolução da economia na direção do socialismo. Imagino que com relação ao homossexualismo (do segundo tipo) uma política similar se mostraria mais frutífera. 

Sempre acreditei que era um erro avançar separadamente a palavra de ordem da emancipação dos homossexuais da classe trabalhadora a partir das condições da exploração capitalista. Creio que esta emancipação é inseparável da luta geral pela emancipação de toda a humanidade da opressão da exploração da propriedade privada. 

Não tinha nenhuma intenção de transformar isto em um problema, de colocar esta questão teoricamente e de buscar uma opinião definitiva sobre esta questão do Partido. Contudo, no momento, a própria realidade me obrigou a colocar esta questão, e considero que seja essencial alcançar um esclarecimento geral sobre este tema. 

O camarada Borodin indicou-me que o fato de que eu ser homossexual de forma alguma diminui meu valor como revolucionário (não era pra ser “como ser humano”?). Ele demonstrou grande confiança em mim, indicando-me como chefe de redação. Então, ele não me trata como alguém que pode se tornar ou que foi um criminoso condenado. Ele também me indicou que minha vida pessoal não era algo que pudesse prejudicar até mesmo no menor grau minha condição de membro do Partido e do trabalho editorial. 

Quando apresentei a ele a questão das detenções, ele mais uma vez (e a OGPU através dele) assegurou-me que no caso dado as razões [para as detenções] eram de natureza política, e de forma alguma de natureza social ou moral, embora a variante de 17 de dezembro da lei já existisse então. Depois de fazer a solicitação correspondente à OGPU, me disseram: “Não há nada de incriminador contra você”. Quando soube da variante de 17 de dezembro da lei, recebi respostas de tipo similar de certo número de pessoas. É verdade que o camarada Degot, do Comissariado do Povo da Justiça, disse que a razão para a lei era que o homossexualismo era uma forma de degenerescência burguesa. 

O especialista em psiquiatria com quem eu falei sobre este tema se recusou a acreditar na existência de tal lei até que mostrei uma cópia para ele. 

Apesar da existência de certo número de interpretações incorretas por parte de certos camaradas, é completamente óbvio que no período precedente à promulgação da lei, a opinião pública sobre esta questão não era em absoluto hostil aos homossexuais. E isto não me surpreendeu em absoluto. 

Aceitei as detenções de homossexuais como um fenômeno totalmente natural, na medida em que na ocasião [das detenções] havia razões de natureza política. Como já mencionei, tudo isto estava de acordo com minha própria análise da questão (como se indica acima), e exatamente da mesma forma não contradiz o ponto de vista expresso oficialmente pelo público soviético. O camarada Borodin me assinalou que não deveria dar demasiada importância ao artigo sobre homossexualismo na Grande Enciclopédia Soviética porque (disse ele) seu autor era ele próprio homossexual e o artigo foi publicado durante um período em que uma série de desvios ainda não tinham sido expostos. Não acho que devamos desconfiar de uma história do Partido Comunista se um comunista a escreveu. Se um homossexual de fato escreveu este artigo, então, tudo o que se exigia dele era uma abordagem objetiva e científica do homossexualismo. Em segundo lugar, sei tanto sobre a eficácia do controle político soviético da imprensa que não posso admitir a possibilidade de que um artigo com desvios sérios pudesse ser impresso numa publicação como a Grande Enciclopédia Soviética. Se isto é possível quando se trata de artigos individuais em alguma revista ou jornal insignificantes, então não é possível na Grande Enciclopédia Soviética. Em qualquer caso, pensei que era possível ter plena confiança em uma publicação cujos editores incluem pessoas como Molotov, Kuibyshev e Pokrovsky (ou mesmo Bukharin, embora ele mereça menos confiança). 

Contudo, do ponto de vista que estou defendendo, o artigo na Grande Enciclopédia Soviética não era de grande importância. A atitude do público soviético ante esta questão foi expressa com suficiente clareza na lei que existia exatamente até a adoção da Lei de 7 de março. Se a lei nada tinha dito sobre esta questão, então as dúvidas podem ter existido antes. Mas a lei de fato formulou uma opinião sobre esta questão: ela defendia os interesses da sociedade proibindo a sedução e perversão de menores. Mas isto nos leva a concluir que as relações homossexuais entre adultos não foram proibidas. 

A lei, naturalmente, é dialética: muda enquanto as circunstâncias mudam. É óbvio, no entanto, que quando a primeira lei foi ratificada, toda a questão do homossexualismo foi levada em conta como um todo (isto, de qualquer forma, é o que se poderia pensar na base da conclusão do que se seguiu a partir da lei). Esta lei estabelecia que o governo soviético rechaçava completamente o princípio da perseguição ao homossexualismo. Este princípio é de caráter fundamental, e sabemos que princípios básicos não se alteram a fim de torná-los compatíveis às novas circunstâncias. Alterar os princípios básicos para tal finalidade significa ser um oportunista e não um dialético. 

Sou capaz de compreender que a alteração das circunstâncias também requer certas mudanças parciais na legislação, na aplicação de novas medidas para a defesa da sociedade, mas não posso entender como a alteração das circunstâncias pode nos forçar a mudar um de [nossos] princípios básicos. 

Visitei dois psiquiatras em busca de uma resposta à questão de saber se era possível “curar” a homossexualidade – talvez você vá achar isto surpreendente. Admito que isto foi oportunismo de minha parte (desta vez, talvez, isto pode ser perdoado), mas fui motivado a fazer isto pelo desejo de encontrar algum tipo de solução para este maldito dilema. E menos ainda quero contradizer a decisão do governo soviético. Eu estava preparado para fazer qualquer coisa somente para evitar a necessidade de me encontrar em contradição com a lei soviética. Dei este passo apesar do fato de não saber se os pesquisadores contemporâneos foram bem-sucedidos em estabelecer a verdadeira natureza da homossexualidade e a possibilidade de converter homossexuais em heterossexuais – isto é, em pessoas que participam do ato sexual somente com membros do sexo oposto. Se essa possibilidade fosse um fato estabelecido, então tudo seria muito mais simples, naturalmente. 

Mas, falando francamente, mesmo que esta possibilidade fosse estabelecida, eu ficaria incerto de todos os modos sobre se seria desejável de fato converter homossexuais em heterossexuais. Naturalmente, pode haver certas razões políticas que poderiam tornar isto desejável. Mas imagino que a necessidade de tal procedimento de nivelação deva estar motivada por razões inusitadamente fortes. 

Sem dúvida é desejável que a maioria das pessoas sejam normais no sentido sexual. Temo, contudo, que isto nunca será o caso. E penso que meus temores são confirmados pelos fatos da história. Penso que se pode dizer com certeza que a maioria das pessoas deseja e continuará a desejar uma vida sexual normal. No entanto, duvido muito da possibilidade de que todas as pessoas se tornem completamente idênticas em termos de suas inclinações sexuais. 

Gostaria de lembrar que os homossexuais constituem meros dois por cento da população. Você também deve se lembrar que entre estes dois por cento havia pessoas excepcionalmente talentosas como Sócrates, Leonardo da Vinci, Michelangelo, Shakespeare e Tchaikovsky. Estes são aqueles sobre os quais sabemos que eram homossexuais. Mas quantas de muitas outras pessoas talentosas existem entre homossexuais que esconderam suas verdadeiras inclinações? Não tenho nenhuma intenção de defender a teoria absurda de que os homossexuais pertencem a uma raça de super-homens, que homossexualidade e genialidade são sinônimos, que os homossexuais chegarão algum dia, como se alega, a tomar sua vingança sobre a sociedade por seus sofrimentos unindo-se para conquistar heterossexuais. “Teorias” desta laia já foram condenadas com desprezo considerável (como merecem ser) por Engels em sua carta a Marx de 22 de junho de 1869. Nesta carta, Engels escreve sobre “teoria” proposta por uma camarilha de homossexuais burgueses alemães que tinham formado sua própria e especial organização. Engels classifica todo esse assunto com o epíteto de “porcarias” (schweinerei). 

Que foi precisamente a “teoria” política da organização, e não a orientação sexual específica de seus membros, o que despertou a ira de Engels, pode ser visto em sua carta a [Friedrich] Sorge de 8 de fevereiro de 1890. Engels escreve: 

“Aqui há outra tempestade em um copo d’água em curso. Você lerá em Labour Elector sobre o bafafá provocado por Peake [?], editor assistente do Star, que em um dos jornais locais acusou abertamente Lord Gaston de sodomia em relação à escandalosa homossexualidade da aristocracia local. O artigo foi vergonhoso, mas foi apenas de natureza pessoal; o assunto não era político”. [A tradução é imprecisa e feita a partir do texto publicado em inglês em um jornal comunista inglês]. 



“O assunto não era político”. O fato de que Engels se refira ao caso de um membro da classe inimiga, que foi acusado de sodomia e que causou um escândalo no mundo aristocrático, como “não político”, como uma “tempestade em copo d’água”, é de grande e fundamental importância para nós. Se a homossexualidade é vista como um traço característico da degenerescência burguesa, então é correto atacar suas manifestações individuais, particularmente durante um período em que os escândalos homossexuais se generalizavam no meio aristocrático. Contudo, desprende-se da citação que Engels não considerava a homossexualidade como uma forma específica de degeneração burguesa. Ele atacou somente quando (como, por exemplo, nos casos envolvendo a Alemanha) ela adotou a forma política de uma associação de certos elementos burgueses. Quando, por outro lado, o assunto não tinha conotações políticas (como no caso acima citado), Engels não considerou necessário atacá-lo. 

Assumo que certos tipos de talento (em particular, o talento no âmbito das artes) são de forma surpreendente frequentemente combinados à homossexualidade. Isto deve ser levado em conta, e me parece que se deve pesar cuidadosamente os riscos da nivelação sexual precisamente neste ramo da cultura soviética, no momento ainda não possuímos uma explicação suficientemente científica da homossexualidade. 

Eu me permitirei citar uma passagem do informe do Camarada Stalin ao XVII Congresso do Partido: 

“[Qualquer] leninista sabe, se for um leninista genuíno, que o nivelamento no âmbito das necessidades e da vida pessoal cotidiana é um absurdo reacionário digno de alguma seita primitiva de ascetas, e não de um estado socialista organizado de forma Marxista, pois não se pode exigir que todas as pessoas devam ter necessidades e gostos idênticos, que todas as pessoas vivam suas vidas diárias de acordo com um único modelo […] 

“Concluir disto que o socialismo requer o igualitarismo, a equalização e o nivelamento das necessidades dos membros da sociedade, o nivelamento de seus gostos e vidas pessoais, que de acordo com o Marxismo todos devem usar roupas idênticas e comer a mesma quantidade de um só e mesmo prato, é equivalente a proferir banalidades e caluniar o Marxismo” (Stalin, Informe ao XVII Congresso do Partido sobre os trabalhos do Comitê Central do AUCP(b). Lenpartizdat, 1934, pp. 54-55. Os itálicos são meus – H.W.). 

Parece-me que este trecho do informe do Camarada Stalin tem direta influência sobre a questão que estou analisando. 

No entanto, o que é importante é que mesmo quando se persegue este nivelamento no presente, é impossível alcançá-lo seja por meios médicos ou legislativos. 

Quando ambos os psiquiatras a quem visitei foram forçados por minhas insistentes perguntas a confessar que existem casos de homossexualidade incurável, finalmente estabeleci minha própria atitude sobre a questão. 

Deve-se reconhecer que existe tal coisa de homossexualidade inextirpável – ainda não encontrei fatos que refutem isto – e, portanto, parece-me, em consequência, que se deve reconhecer como inevitável a existência desta minoria na sociedade, seja uma sociedade capitalista ou mesmo uma sociedade socialista. Neste caso, não se pode encontrar qualquer justificativa em declarar essas pessoas penalmente responsáveis por seus traços distintivos, traços estes por cuja criação não carregam nenhuma responsabilidade e que são incapazes de mudar mesmo que quisessem. 

Assim, na tentativa de raciocinar de acordo com os princípios do Marxismo-Leninismo como os entendo, cheguei no final à contradição entre a lei e as conclusões que acompanham minha linha de raciocínio. E é justamente esta contradição que me obriga a desejar uma declaração oficial sobre esta questão. 

Saudações comunistas 

Harry Whyte 

Meu endereço: Bolshoi Afanasievskii, no 5, apt, 11; telefone: 3-34-33 

Endereço profissional: Petrovskii pereulok, no 8, “Moscow Daily News”, tel: 2-58-71, 3-33-26. 




Informação sobre o autor da carta 

Whyte, Harry. 27 anos de idade. Nascido em Edimburgo, Escócia. Filho de um pintor da classe trabalhadora, que recentemente adquiriu seu próprio negócio. Ensino secundário. Profissão: jornalista. Trabalhou para jornais burgueses até 1932. Trabalhou em seu tempo livre para o jornal da Sociedade de Amigos da URSS, Rússia Hoje (de 1931 a 1932). Juntou-se ao Partido Trabalhista Independente em 1927; ao Partido Comunista da Grã-Bretanha em 1931. Participou da organização de células do partido e organizações distritais em Fleet Street, o centro da imprensa britânica. Em 1932, foi contratado para a equipe do Moscow News (Moskovskie Novosti). Em 1933, foi nomeado chefe da equipe editorial deste jornal. Foi assinalado como o melhor trabalhador de vanguarda. A promoção ao AUCP(b) do Partido Comunista da Inglaterra [sic] foi adiada até o total expurgo do partido. 



NB. Os argumentos expostos na carta anexa foram originalmente formulados por mim em uma carta ao Camarada Borodin, chefe de redação do Moscow Daily News, na esperança de que ele dirigiria à atenção do camarada Stalin a questão que abordo. Contudo, ele considerou impossível fazer isto. Além do assinalado na presente carta, a carta endereçada ao camarada Borodin também contém certos fatos que me preocupam pessoalmente e que não têm, em geral, grande incidência sobre a questão em consideração, mas que, no entanto, considerei necessário trazer a sua atenção. Uma cópia desta carta foi apresentada à OGPU a seu pedido, na medida em que informei a um camarada da OGPU sobre esta carta. 

AP RF [Arquivo do Presidente da Federação Russa], f. 3, op. 57, d. 37, I. 29-45; cópia notariada. 

A primeira página da carta contém a instrução: “Arquive-se. Um idiota e um degenerado. J. Stalin”. 

Notas para a tradução: 

O texto original russo desta carta foi publicado no jornal Istochnik (5/6/1993): 185-191) sob a rubrica “Humor do Arquivo Secreto”. O texto entre colchetes foi inserido pelo tradutor para clareza e para facilitar a leitura. 



1. A homossexualidade masculina foi criminalizada em toda a União Soviética em 1933-1934. A violação do artigo 121 do código criminal soviético implicava em pena de cinco anos de prisão. A lei não foi revogada até 1993. Para uma breve história desta lei (incluindo uma discussão da carta de Harry Whyte a Stalin), ver Leslie Feinberg, “Pode um homossexual ser membro do Partido Comunista?”. Workers World, 7 de outubro, 2004. 

2. All-Union Communist Party (bolchevique). Foi renomeado como Partido Comunista da União Soviética em 1952. 

3. Mikhail Borodin (1884-1951) era o pseudônimo de Mikhail Gruzenberg, um agente da Comintern. Foi editor-chefe do Moscow Daily News (fundado pela jornalista americana Anna Louise Strong, em 1930) de 1932 a 1949. Borodin foi preso como parte da campanha contra os “cosmopolitas”. De acordo a algumas fontes, ele morreu em um campo de trabalho na Sibéria em 1951. De acordo com outras fontes, ele foi fuzilado na prisão de Lefortovo (Moscou) em 1949. O jornal foi fechado depois de sua prisão, retomando a publicação somente em 1956. 

4. Marinus van der Lubbe (1909-1934) foi o jovem comunista holandês acusado de incendiar o Reichstag alemão em 27 de fevereiro de 1933. Ele foi sentenciado à morte pelo crime e guilhotinado em Leipzig em 10 de janeiro de 1934. 

5. Magnus Hirschfeld (1868-1935) era um médico judeu-alemão, sexólogo e ativistas dos direitos dos gays. Whyte provavelmente se refere aqui ou ao Comitê Científico Humanitário, uma organização da qual Hirschfeld foi co-fundador em 1897 para repelir a criminalização do homossexualismo na Alemanha, ou ao seu Institut für Sexualwissenschaft (Berlim). Os nazistas atacaram o instituto em 6 de maio de 1933 e queimaram muitos dos livros de sua livraria. 

6. O Livro Cinzento do Terror de Hitler e o Incêndio do Reichstag foi um livro publicado pelo Comitê Mundial para o Desagravo das Vítimas do Fascismo Alemão em 1933. Ele foi traduzido em muitas línguas (inclusive a língua russa) e se venderam milhões de cópias por todo o mundo. 



Artigo publicado originalmente em 27 de junho de 2015, no site The Charnel-House, sob o título “Can a homosexual be a communist? Harry Whyte’s letter to Stalin, 1934“. 

Tradução de Fabiano Leite.

terça-feira, 6 de outubro de 2020





A origem comunista da suástica nazista


É bem conhecido que o Nazismo foi originado do Fascismo e este inventado por Mussolini, até então uma das principais lideranças do Partido Socialista Italiano. O que é pouco divulgado é que os nazistas foram buscar seu principal emblema, a suástica, e a cor vermelha de sua bandeira, entre os símbolos adotados pelos revolucionários comunistas nos primeiros anos da União Soviética. Antes da II Guerra Mundial, comunistas e nazistas mantiveram colaboração que incluía tratado de não agressão e estudos de eugenismo.



Primeiro dinheiro soviético, 1918. Apresenta
 suástica ao fundo. Valor de 10.000 rublos.

Diferentemente do que muitos acreditam, a Revolução Russa não foi iniciada pelos comunistas. Em 27 de fevereiro de 1917, um Governo Provisório sem comunistas foi formado; o Czar Nicolau II, o Imperador da Rússia, ainda tentou resistir, mas no mês seguinte renunciou ao poder em favor de seu irmão, que renunciou em seguida.

Nota de 1.000 rublos emitida em 1917 
pelo Governo Provisório com suástica ao fundo.

O Governo Provisório, porém, não foi competente para se impor ao paralelo organizado pelos comunistas, cujos líderes principais, sabendo da deposição do Czar, haviam retornado ao país. Já em outubro de 1917, com pouco apoio entre os trabalhadores, mas significativa infiltração nas forças armadas, os bolcheviques, a ala predominante entre os comunistas, assumiram o poder, eliminando o Governo Provisório e depois diversas resistências na Guerra Civil Russa, que durou de 1918 a 1921. Em 1922, foi fundada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Carro do Czar Nicolau II exibindo suástica. O símbolo transitou do Czarismo ao Comunismo, de onde foi copiado pelos nazistas.

A suástica foi usada como um símbolo para ‘socialismo’, tanto pela URSS como pelo Partido Socialista Nacional dos Trabalhadores Alemães, o Partido Nazista. A suástica já aparecia em notas russas emitidas pelo Governo Provisório e foi mantida pelo governo comunista nas suas cédulas emitidas em 1918. Até 1923, a URSS manteve a emissão de notas com o símbolo, as quais permaneceram em circulação até 1926. Hitler tornou-se chanceler da Alemanha em 1933, mas desde 1920 já adotava um bandeira vermelha com o símbolo ao centro, assumindo explicitamente imitar a estética da propaganda comunista.

Na Rússia, a suástica aparecia em diversos itens governamentais, sendo as notas de dinheiro os mais notórios.

  Passaporte do Exército soviético com suástica.

Explorar a religião para propagar o Comunismo não foi uma inovação da Teologia da Libertação. Já na Guerra Civil Russa, observando a reprodução da suástica entre seguidores do Budismo, religião predominante entre diversos povos do Sul do país, o governo comunista acrescentou uma ao centro da estrela de cinco pontas, emblema mais antigo do Comunismo e símbolo do próprio Exército Vermelho.

Calmuques, povo do Sul da Rússia, recrutados para o Exército Vermelho, exibindo a estrela comunista com suástica adicionada pelos governo bolchevique.

Os passaportes do Exército soviético apresentavam uma suástica circundada por louros e com uma estrela em sua parte superior, sob um fundo vermelho. Além da suástica, o vermelho também seria adotado pelos nazistas.

Em destaque, marca do carimbo do Conselho Provincial de Moscou colocada em documento assinado por parlamentares, em 1920.

Houve também um remendo de ombro do Exército vermelho com uma suástica nele que foi usado durante a Guerra Civil Russa ocorrida após a revolução bolchevique.

 Nota de 250 rublos com águia e suástica emitida pelo Governo Provisório, em 1917.

O governo soviético também usou o inglês, o alemão e outras línguas em suas notas como um meio de divulgação do Comunismo.

A foice e o martelo

A foice e martelo tornaram-se um símbolo comunista em 1917, oficializado em 1918, com a interferência de Vladimir Lenin no desenho final: o líder bolchevique rejeitou a inclusão da espada no emblema. Os mesmos elementos também foram imitados pela propaganda nazista.

 Broches nazistas comemorativos do Dia do Trabalhador, de 1934 e 1936. Hitler chegara ao comando da Alemanha em 1933. Os nazistas adotavam símbolos comunistas como foice, martelo e arado.

Não eram adornos exclusivos dos comunistas. A combinação “foice e martelo” apareceu pela primeira vez em moedas do Chile, em 1894.

Swastika ou Hakenkreuz?

Embora houvesse em alemão a palavra Swastika (com origem no sânscrito स्वस्तिक, referente a um sinal indiano de boa sorte, mas também presente em diversas culturas com variados usos e significados), os nazistas referiam-se ao seu símbolo com a palavra Hakenkreuz (pronuncia-se ‘raquencros’), de Haken, gancho, e Kreuz, cruz – em tradução livre, ‘cruz-de-gancho’ ou ”cruz-gancho’.

Embora muito parecida na forma com a milenar suástica dos templos hindus e budistas, a Hakenkreuz foi elaborada no início do séc. XX, época em que desenho idêntico aparecia impresso nas notas de dinheiro da União Soviética. Na bandeira nazista, simbolizava a luta e o trabalho; o círculo branco, o alegado nacionalismo; e o vermelho, o socialismo.

No seu livro Mein Kampf, o líder nazista Adolf Hitler, registrou o processo de elaboração da bandeira nazista, e se referiu ao simbolismo da Hakenkreuz para o nazismo da seguinte forma:


“Como socialistas nacionais, vemos em nossa bandeira nosso programa. Em vermelho, vemos a idéia social do movimento; em branco, a [idéia] nacionalista; na suástica [Hakenkreuz], a missão da luta pela vitória do homem ariano e ao mesmo tempo com ele também a vitória da ideia do trabalho criativo, que em si era eternamente anti-semita e anti-semita será.”*

Segundo Hitler, a bandeira finalizada foi apresentada pela primeira vez ao público no verão de 1920; na maioria das propostas, a Hakenkreuz era acrescentada à antiga bandeira alemã, de cores preta, vermelha e branca.

Monumentalismo: a propaganda nazista buscava causar impacto visual, imitando a comunista. O uso da suástica pelos nazistas ocorreu contemporaneamente ao seu uso pelos comunistas na Rússia.

A

A inspiração comunista

Hitler dedica três páginas de seu livro para tratar sobre a elaboração da bandeira nazista. Ele destaca o impacto que símbolos podem causar no povo e a necessidade de um para se contrapor aos comunistas e registra que ficou impressionado com uma manifestação marxista que presenciou:


“A organização do nosso serviço de ordem veio esclarecer uma questão importantíssima. Até então o movimento não possuía, nem insígnias nem estandarte próprios do Partido. A falta de semelhantes emblemas não só apresentava desvantagens no momento, como se tornava indefensável no futuro. As desvantagens consistiam, no presente, na falta de um símbolo para exprimir a solidariedade dos correligionários e, de futuro, não seria possível dispensar um sinal distintivo do movimento que pudesse servir de oposição à ‘Internacional’.

“Já na minha juventude, tinha tido, muitas vezes, a ocasião de sentir e compreender a significação psicológica de símbolos dessa ordem. Depois da Guerra, presenciei uma grande manifestação dos marxistas diante do Palácio Real, no Lustgarten. Uma imensidade de bandeiras, de faixas e de flores vermelhas davam a essa manifestação, na qual tomavam parte, aproximadamente, cento e vinte mil pessoas, uma aparência formidável. Pude sentir com que facilidade o homem do povo é empolgado pela magia sugestiva de um tal espetáculo.”

Segundo Hitler, a adoção da estética e do linguajar comunistas causou suspeitas entre os nacionalistas alemães sobre de que lado os nazistas realmente estavam. Hitler registra sua explicação para a imitação:


“Só a cor vermelha dos nossos cartazes fazia com que eles afluíssem às nossas salas de reunião. A burguesia mostrava-se horrorizada por nós termos também recorrido à cor vermelha dos bolchevistas, suspeitando, atrás disso, alguma atitude ambígua. Os espíritos nacionalistas da Alemanha cochichavam uns aos outros a mesma suspeita, de que, no fundo, não éramos senão uma espécie de marxistas, talvez simplesmente mascarados marxistas ou, melhor, socialistas. A diferença entre marxismo e socialismo até hoje ainda não entrou nessas cabeças. Especialmente, quando se descobriu, que, nas nossas assembléias, tínhamos por princípio não usar os termos ‘Senhores e Senhoras’ mas ‘Companheiros e Companheiras’, só considerando entre nós o coleguismo de partido, o fantasma marxista surgiu claramente diante de muitos adversários nossos. Quantas boas gargalhadas demos à custa desses idiotas e poltrões burgueses, nas suas tentativas de decifrarem o enigma da nossa origem, nossas intenções e nossa finalidade!

“A cor vermelha de nossos cartazes foi por nós escolhida, após reflexão exata e profunda, com o fito de excitar a Esquerda, de revoltá-la e induzi-la a freqüentar nossas assembléias; isso tudo nem que fosse só para nos permitir entrar em contato e falar com essa gente.”

A imitação do linguajar comunista também constava no Die Fahne hoch!, o hino do Partido Nazista:



“A bandeira ao alto! As fileiras cerradas!
As SA marcham em firme e corajoso passo.
Companheiros fuzilados pela Frente Vermelha e pelos Reacionários,Marcham em espírito nas nossas fileiras.”**


Colaboração entre nazistas e comunistas

Tanto comunistas quanto nazistas buscam rejeitar seus vínculos históricos e proximidades ideológicas.

Um exemplo sutil, mas não imperceptível, disto aparece nas traduções. Inversamente da língua portuguesa, em alemão os adjetivos em regra precedem o substantivo. O nome em alemão do Partido Nazista é ‘Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei‘, cuja tradução é Partido dos Trabalhadores Alemães Socialistas Nacionais. Nas traduções em língua portuguesa, porém, o caráter socialista do Partido Nazista tem sido atenuado e ‘Nationalsozialistische’ traduzido por ‘Nacional Socialista’.

O desfile conjunto dos exércitos nazista e comunista em Brest, cidade então pertencente à Polônia, em 22 de setembro de 1939. A solenidade marca o fim da invasão conjunta alemã e soviética, quando a Alemanha entrega a cidade à URSS. Na foto de cima, ao centro, o major-general Heinz Guderian, da Wehrmacht, e o brigadeiro Semyon Krivoshein, do Exército Vermelho, prestam continência. Na foto abaixo, outros militares comunistas e nazistas assistem ao desfile.

Até pouco antes da II Guerra Mundial, comunistas e nazistas mantiveram colaboração que incluía o Tratado Nazi-Comunista de Não Agressão, e trocas de informação em pesquisas sobre eugenia, especialidade que buscava a “melhoria” da espécie humana pelo controle da procriação.

NOTA

*No original,

“Als nationale Sozialisten sehen wir in unserer Flagge unser Programm. Im Rot sehen wir den sozialen Gedanken der Bewegung, im Weiß den nationalistischen, im Hakenkreuz die Mission des Kampfes für den Sieg des arischen Menschen und zugleich mit ihm auch den Sieg des Gedankens der schaffenden Arbeit, die selbst ewig antisemitisch war und antisemitisch sein wird“.

**No original,


Die Fahne hoch! Die Reihen fest geschlossen!
SA marschiert mit mutig-festem Schritt.
Kameraden, die Rotfront und Reaktion erschossen,
Marschieren im Geist in unseren Reihen mit.




segunda-feira, 17 de agosto de 2020






CNBB (doB) – O comunismo dentro da Igreja Católica. 


“eles anulavam o mandamento de Deus para seguir tradições humanas” 
(Marcos 7,8). 





A CNBB foi fundada em 14 de outubro de 1952, no Rio de Janeiro, então capital do Brasil. 

Segundo a Wikipédia a “Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) é uma instituição permanente que reúne os Bispos católicos do Brasil que, conforme o Código de Direito Canônico, "exercem conjuntamente certas funções pastorais em favor dos fiéis do seu território, a fim de promover o maior bem que a Igreja proporciona aos homens, principalmente em formas e modalidades de apostolado devidamente adaptadas às circunstâncias de tempo e lugar, de acordo com o direito" (Cân. 447). Pertencem à CNBB, pelo próprio direito, todos os Bispos diocesanos do Brasil e os que são a eles equiparados pelo direito, os Bispos coadjutores, os Bispos auxiliares e os outros Bispos titulares que exercem no mesmo território algum encargo especial, confiado pela Sé Apostólica ou pela Conferência dos Bispos (cf. Cân. 450). 


No entanto, o conceito que normalmente se tem sobre a CNBB é bem distanciado deste apresentado no site da Wikipédia. 



Fundada, entre outros, pelo Bispo de Fortaleza – CE, Dom Hélder Pessoa Câmara, “o arcebispo vermelho”, considerado por muitos como um bispo comunista. Dom Hélder Câmara era um desafeto do regime militar que se instaurou no mesmo mês em que virou arcebispo de Olinda e Recife, abril de 1964. Ao arcebispo, tido como inimigo pelos militares, se atribuiu a frase “quando dou comida aos pobres, me chamam de santo, quando pergunto por que eles são pobres, chamam-me de comunista”. 


A CNBB não tem nenhuma autoridade na hierarquia da Igreja Católica. Ela é um “poder paralelo” formado por bispos comunistas sob as vistas grossas do Vaticano. A CNBB é uma organização comunista revolucionária em favor da implantação do regime comunista no Brasil. O que, segundo o Decreto contra o comunismo, documento da Igreja Católica, publicado pelo Santo Ofício no dia 1 de Julho de 1949, durante o pontificado do Papa Pio XII, faz com que todos os seus membros estejam automaticamente excomungados ipso facto (ou latae sententiae). Além deste documento de 1949, outros decretos contra o comunismo também foram publicados pelo Santo Ofício entre as décadas de 1940 e 1950 e assim condenam a CNBB e seus membros atuantes nos preceitos socialista/comunistas à excomunhão. 


“A CNBB fala em nome da Igreja e posa, ante os fiéis, como expressão suma da autoridade eclesiástica, mas não é sequer uma entidade da Igreja, é uma simples sociedade civil sem lugar nem função na hierarquia católica. Os bispos, individualmente, têm autoridade para falar em nome da Igreja. A CNBB, não. No século XX, à medida que o movimento neotomista inaugurado por Leão XIII reconquistava o prestígio intelectual da Igreja, os eternos falsários abdicaram temporariamente da propaganda aberta e voltaram-se, em massa, para a estratégia da infiltração discreta, praticada em escala industrial a partir da década de 30 graças à iniciativa da KGB (leiam o depoimento de Bella Dodd em "School of Darkness": há cópias circulando pela internet). Foi só em 1963, no Concílio Vaticano II, que, sentindo-se protegidos pela atmosfera de mudança, voltaram a vender impunemente, ao público geral, seus simulacros de cristianismo.” Olavo de Carvalho. 

É preciso entender que o comunismo se infiltrou dentro da Igreja no Brasil, através da CNBB, por meio da Teologia da Libertação.




A CNBB e a Teologia da Libertação transformam a mensagem de Cristo numa ode ao socialismo. Só muita manipulação perversa para confundir um santo padre fiel ao cristianismo com um guerrilheiro assassino comunista ou a Doutrina Social da Igreja Católica com as pautas progressistas, ditas sociais, dos esquerdistas. 

Dom Leonardo Steiner é apontado como o “homem mais poderoso da CNBB”, do qual é secretário-geral. O religioso traz a esquerda em seu DNA eclesiástico. Seu mentor seria dom Pedro Casalgálida, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia e um dos maiores expoentes da progressista Teologia da Libertação. Frei Betto chama dom Pedro de “santo e herói”, e João Pedro Stedile, ideólogo do MST, já o comparou a Che Guevara. 


A CNBB teve um papel determinante no processo de construção do esquema de poder do PT e do Foro de São Paulo. 


Fidel Castro sabia que para implantar o comunismo no Brasil e América Latina via revolução cultural seria preciso instrumentalizar a igreja Católica, infiltrando em seu seio padres e bispos socialistas / comunistas para subverter a doutrina católica ideologizando a fé. Sem que os católicos se dessem conta, do processo lento e gradual. Desde o início, o Brasil foi visto como a galinha dos ovos de ouro, pois é um país continental, cujos recursos em muito ajudariam não só Cuba, mas toda a “Pátria Grande” socialista/comunista. Mas para fazer a revolução por dentro da Igreja Católica seria preciso contar com a “Teologia da Libertação”. Mesmo barrada por Ratzinger (especialmente Boff, em 1984), Fidel não desistiu. Ele sabia que a Teologia da Libertação seria o “fermento na massa” da revolução dentro da Igreja. 


João Paulo II repreendendo o "poeta" da Teologia da Libertação, Ernesto Cardenal





Já em 2005, tentaram um “plano ousado” de cardeais progressistas para eleger um papa latino-americano comprometidos com o projeto da “Pátria Grande”, mas foi o próprio Ratzinger quem ganhou e, ao menos naquele momento, tentou por um dique à convulsão revolucionária. Andreas Englisch conta, em seu livro sobre Bento XVI, que não havia chegado a hora da “grande revolução”. E o mesmo Englisch narra o quanto Ratzinger foi boicotado desde o início. Ele próprio reconheceu em seu livro: “Existe, definitivamente, um grupo anti-Ratzinger dentro do Vaticano”. O fato é que Ratzinger havia condenado a teologia da libertação, mas Fidel Castro, no ano seguinte à condenação de Boff, explicou pessoalmente a Pedro Casaldáliga: “A teologia da libertação é mais importante que o marxismo para a revolução no Brasil e América Latina.” 


A Igreja Católica era o baluarte contra o comunismo. Mas então o comunismo começou a mudar de tática desde 1930. Começaram a entrar em todos os níveis da Igreja católica para destruí-la desde dentro. Encontrou na igreja católica uma condição favorável. Os católicos influenciados pela revolução francesa começaram a usar os pobres como alavanca (Bucha de canhão) para impor o comunismo. No Brasil nos anos de 1930 milhares de comunistas foram infiltrados propositalmente dentro da Igreja Católica (Nos seminários). Grande parte desses comunistas se tornaram padres e até mesmo bispos. Nos anos 1930 e 1940 nasce já os abusos litúrgicos. Não foi no concilio vaticano II. Todos os teólogos da libertação, que fundaram vieram da ação católica que já eram esquerda. Da ação católica veio à guerrilha. Juntaram-se em 1964. 1965 o congresso se reuniu em cuba. E logo depois 1967. Reunião de todos os grupos do mundo. Começou a guerrilha nos anos 1960 na America latina. Não conseguiram implantar o comunismo no Brasil. Eles entenderam que deviam entrar pelos meios eclesiásticos. 



CNBB prega comunismo na PUC-Goiânia 





O apoio da esquerda católica via CNBB à causa da reforma agrária socialista vem maculando os verdadeiros princípios da Igreja de Roma. 


O MST é apoiado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), órgão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), vinculado à Comissão Episcopal para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz e nascido em 22 de junho de 1975, durante o Encontro de Pastoral da Amazônia, convocado pela CNBB e realizado em Goiânia (GO). 


Segundo levantamento da ONG Contas Abertas, entre 2003 e março de 2009, as regionais da Comissão Pastoral da Terra, nos estados de Alagoas, Mato Grosso e Rio de Janeiro/Espírito Santo receberam por meio de convênios firmados com órgãos públicos federais, R$ 814. 100,00 para desenvolverem atividades voltadas ao campo. Os valores foram divulgados após o presidente do STF, Gilmar Mendes, criticar supostos repasses irregulares de verbas públicas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e as invasões de terras promovidas pelo movimento. 


A Pastoral da Terra (CNBB) é uma das entidades que apóiam o MST e a Via Campesina (Sete pessoas da organização foram indiciadas pela polícia em março de 2009 pela ocupação de uma propriedade da Votorantim Celulose e Papel em Candiota, a 390 km de Porto Alegre, sob a acusação de invasão de propriedade e danos ao patrimônio. Em Barra Bonita, cerca de 600 mulheres e 40 crianças do grupo invadiram uma área do grupo Cosan. Mesmo após a justiça ter determinado a reintegração de posse, o grupo continuava no local). 



Presidente da CNBB defende invasões de terras pelo MST
Agência Estado: 

O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Jayme Chemello, defendeu hoje as invasões de terras promovidas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) como estratégia de "protesto". Ele ressaltou, porém, que essa prática não pode ser usada como "método constante" por causa do risco de causar instabilidade no País. 



O youtuber Bernardo Kuster tem denunciado o comunismo dentro da igreja. 






Lula confessa estratégia para chegar ao poder: Igreja e gramcismo. 







CNBB apoia o comunismo e o PT. 





Leigo desmascara a ideologia comunista na CNBB 



A CNBB e a militância pró-Haddad (poste do Lula). 


Em 2018 a CNBB declara apoio ao candidato à presidência pelo PT, Haddad. Na época o Secretário Geral da Conferência dos Bispos - Dom Leonardo Ülrich Steiner – falou sobre o segundo turno das eleições: "Temos duas candidaturas à Presidência, mas somos a favor é da democracia”. É lógico que “democracia” para Steiner é o lulopetismo representado no poste do Haddad. 


Em reunião com o candidato poste Haddad, o Secretário Geral da CNBB listou os "assuntos" que "preocupam" os "Bispos do Brasil" e que pautaram a conversa com Haddad. Cita o aborto - que está, repito, no "Plano de Governo" do comunista, mas, curioso, não menciona a ideologia de gênero LGBT, perdendo a oportunidade de abordar o "pai" do kit-gay, que pretende transformar o sexo anal em critério de concessão de auxílio social. Diz ter falado sobre o "combate rigoroso corrupção", recepcionando um "candidato" que afirma abertamente no seu "Plano de Governo" o propósito de soltar o chefe da sua quadrilha. 





A propaganda eleitoral comunista promovida com a colaboração direta do Secretário Geral da CNBB, Leonardo Steiner: "Nosso programa prevê ações alinhadas a princípios católicos", afirmou Fernando Haddad. 


São Paulo diz: "Guardai as tradições e a sã doutrina, Porque virá tempo em que muitos não suportarão a sã doutrina" (2Tm.4,3). Para permanecermos na verdade é essencial conhecermos a Doutrina e Tradição católica para distinguirmos entre o Joio e o Trigo; Entre, Bons e Maus leigos; Entre, Bons e Maus Sacerdotes. Cristo disse que haveria lobos em seu rebanho ((Mt.7,15-20). MAS, Pelos seus frutos (Atitudes e Comportamentos) os conhecereis (Mt.7,16). É fácil separar o Joio do Trigo se conhecermos a verdadeira Doutrina e Tradição Católica. 




Os comunistas disfarçados de católicos tentam a cada dia mais ganhar voz dentro da Igreja, escondidos por detrás de assuntos sociais, lutam com esse disfarce para implantar em nosso meio um pensamento materialista. O pesadelo desses desgraçados é a voz dos homens e mulheres que hoje conhecem a verdadeira doutrina católica. Se encontrar um homem, tenha ele a autoridade que for, dentro ou fora da Igreja, que se nega falar das realidades eternas para se prender apenas em trabalhos sociais, desconfie e tenha muita prudência, pois aqui está a maior característica de um comunista infiltrado em nosso meio. A seita comunista quer implantar o reino de Satanás nessa terra, para isto, se infiltra em nosso meio principalmente em meio às autoridades. 






Bispos, MST e dinheiro do PT 






O PAPEL NEFASTO DA CNBB 
Jomar Martins 

Nesta entrevista exclusiva, André Falleiro Garcia explica como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) aderiu à luta pela reforma agrária e de que forma se transformou num ‘‘poder paralelo’’ que vem solapando o estado de direito, ao criar as bases para implantação do comunismo no País. ‘‘Enquanto os bispos não cortarem a própria carne e extirparem este órgão malsão, veremos o aprofundamento dos conflitos no campo e o declínio da própria fé católica’’, resume. 


E N T R E V I S T A 


Jomar Martins — Em que momento a Igreja Católica resolveu encampar as chamadas ‘‘lutas sociais’’ no Brasil? 


André F. Falleiro Garcia — Até praticamente o final da década de 40, predominava no ambiente religioso brasileiro o catolicismo conservador. A ortodoxia doutrinária era uma característica generalizada que ainda se notava no clero e nas associações religiosas de leigos. A grande controvérsia que houve na Ação Católica, em 1943, serviu como freio para impedir o avanço do esquerdismo. Mas, em 1952, foi fundada a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Teve como primeiro secretário-geral Dom Helder Câmara (falecido em 1999), que era então bispo auxiliar do Rio de Janeiro. Este prelado, de fato, mereceu ser chamado de “Arcebispo Vermelho”. Os anos 50 foram marcados pela intensa fermentação do esquerdismo — no clero e nas associações dirigidas por leigos — promovida pela CNBB e Dom Helder Câmara. De modo que, em 1960, a esquerda católica já estava articulada e pronta para a atuação pública direcionada às ditas “demandas sociais”. Em toda a década de 60, houve acirrada polêmica nos meios católicos. A esquerda católica foi, então, fortemente combatida no plano ideológico. Vale citar a atuação do movimento de leigos ligados ao jornal Catolicismo, dirigidos por Plínio Corrêa de Oliveira. Nesta luta, também se destacaram o bispo de Campos (RJ), Dom Antônio de Castro Mayer, e o de Jacarezinho (PR), Dom Geraldo de Proença Sigaud. Todos travaram calorosa polêmica com os agrorreformistas católicos. Quando estalou a campanha agrorreformista no Brasil, no início dos anos 60, este grupo, por meio dos dois bispos, um líder católico leigo e um economista, lançou o livro Reforma Agrária — Questão de Consciência. Era o contraponto no mundo católico. 


P — Houve um fato marcante, considerado divisor de águas? 

R — Sim. Há um fato simbólico que pode ser considerado como o início da atuação pública da esquerda católica. De forma bombástica, em 5 de dezembro de 1960, numa transmissão coletiva, as TVs Tupi, Paulista e Record entraram em cadeia para levar a São Paulo e ao Brasil um pronunciamento da mais alta importância, favorável à reforma agrária a ser aplicada no Estado. Participaram e fizeram uso da palavra Dom Helder Câmara, secretário-geral da CNBB, e mais seis bispos. Sob os holofotes da mídia televisiva, Dom Helder leu trechos da Declaração dos Arcebispos e Bispos presentes à Reunião das Províncias Eclesiásticas de São Paulo. De fato, todo o episcopado paulista tinha acabado de se reunir, sob a presidência do cardeal-arcebispo de São Paulo, Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, e havia estudado o Projeto de Revisão Agrária (Projeto de Lei nº 154/60 e seu Substitutivo). Tal projeto fora proposto pelo governador democrata-cristão do Estado de São Paulo, Carvalho Pinto. Os bispos, nessa Declaração, diziam que se sentiam felizes de poder afirmar que se tratava de um projeto de lei de reforma agrária “inspirado nos princípios da doutrina social da Igreja”. Mencionavam a Carta Pastoral Coletiva dos Cardeais, Arcebispos e Bispos do Brasil, de 1951, em que havia um longo trecho sobre reforma agrária, que começava dizendo: “A Igreja não tem o direito de ser indiferente à reforma agrária”. E também citavam outro pronunciamento de todo o Episcopado do Brasil, feito em 1958, sobre a reforma agrária. A meu ver, foi o espetaculoso pronunciamento destes bispos, em 1960, assistido na TV por milhões de pessoas, que marcou o início da ação pública, em larga escala, da esquerda católica engajada na promoção de uma vasta campanha agrorreformista. 

P — O Partido Comunista Brasileiro é o pioneiro da reivindicação da reforma agrária no Brasil, desde os anos 20 do século passado. O que levou a CNBB, desde a sua fundação, a abraçar esta causa revolucionária comunista? 


R — Seria forçado e não corresponderia à realidade brasileira afirmar, simplesmente, que o Partido Comunista (PC) se infiltrou na Igreja Católica e a dominou. Afinal, o PC brasileiro sempre foi um anão, uma coisa liliputiana mesmo. O que se passou, de certo modo, foi o contrário. A força propulsora da esquerda é que proveio do setor católico. Foi significativa a participação católica para a formação do Partido dos Trabalhadores (PT) e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), nos anos 80, possuíam oitenta mil núcleos e arregimentavam um milhão e meio de ativistas. É a origem de incontáveis ativistas que se engajaram nas “causas sociais”. A Igreja Católica entrou na luta revolucionária, porque houve uma infiltração do esquerdismo em seu interior. O clero esquerdista reuniu leigos e organizou movimentos sociais, os quais, por sua vez, promoveram a agitação social. E essa infiltração ideológica não pode ser atribuída exclusivamente ao PC. Na realidade, desde os anos 50, seminaristas e sacerdotes novos iam à Europa fazer cursos e completar sua formação religiosa. Em geral, voltavam convencidos das idéias esquerdistas. E aqui começavam a colocar em prática os novos métodos de ação apreendidos no exterior. Não se pode desconsiderar, entretanto, a possibilidade de certa infiltração propriamente comunista na Igreja. 


P — O apoio da CNBB a invasões e depredações a propriedades privadas não é imoral, considerando que a Igreja se assenta sobre valores elevados de conduta? 


R — Estes atos são imorais por dupla razão. Primeiro, por violar dois mandamentos sagrados do Decálogo: não roubarás; não cobiçarás as coisas alheias. E, em segundo, por violar frontalmente o instituto da propriedade privada, que o estado democrático de direito protege, conforme previsão constitucional. Assim, é moralmente [e legalmente] condenável o ataque a propriedades privadas, feito por grupos do MST e seus congêneres. O apoio que recebem da Igreja, por meio da Comissão Pastoral da Terra (CPT), não legitima moralmente estas invasões. É imoral toda a contribuição que a CPT proporciona para o esbulho das propriedades dos particulares. Como, aliás, também é imoral a desapropriação confiscatória, feita pelo Estado brasileiro, a preço vil e com finalidades socialistas. Sob o ponto de vista da moral cristã, conforme a tradicional doutrina social católica, todos os que executam ou apóiam ações contra os legítimos proprietários cometem pecado mortal. Os que se apossam de terras por esse meio imoral não podem ser absolvidos em confissão, se não as restituem aos seus legítimos donos. 

P — A Igreja assume, então, um esforço deliberado de minar o instituto da propriedade privada? 


R — Eu não diria que toda a Igreja trilha este caminho. Mas é verdade que os maus pastores estão minando o direito de propriedade em nosso país. E isso é muito grave. Não fossem estes, os ditos “movimentos sociais” (MST, Quilombolas, Indigenistas, Ambientalistas) perderiam o melhor do seu dinamismo. Para compreender o que acontece no interior da Igreja, seria preciso levar em conta que ela passa por um processo de autodemolição, conforme alertou o Papa Paulo VI já nos anos 70. Esta crise penetrou nas estruturas da Igreja Católica em todas as nações onde está instalada. Talvez o maior fator de promoção da autodemolição no Brasil seja a CNBB. Cada bispo, em sua diocese, presta contas e está diretamente ligado ao chefe da Igreja, o Papa. Este sistema se revelou o mais apropriado ao longo de quase dois mil anos. Mas, nos anos 50, houve uma mudança na gestão que afetou os pilares da hierarquia: foram criadas as Conferências Episcopais, órgãos colegiados representativos da classe. A CNBB, criada em 1952, não faz parte da hierarquia da Igreja, mas age como se fosse a chefia de fato da Igreja Católica no Brasil. Com isso, usurpa a autoridade dos bispos e exerce sobre eles um férreo controle de opinião e de ação. Ademais, a CNBB — por meio de seu órgão que cuida da questão indígena (o Conselho Indigenista Missionário-CIMI) e do que trata da questão agrária (a CPT) — faz o papel de acelerador da revolução socialista no Brasil. Logo, a Igreja Católica, numa primeira leitura, não está toda ela comprometida com estes crimes. Na agitação agrária, estão engajados a CNBB, com seus braços de agitação social, e alguns bispos marcadamente esquerdistas. 


P — O sr. pode citar um exemplo de como age a CNBB? 


R — Exemplos não faltam. Na questão indígena, o aborto e o infanticídio são promovidos nas tribos sob o olhar complacente dos agentes do CIMI. Mas vamos pegar o caso recente da menina de Alagoinha (PE), que foi estuprada pelo padrasto e engravidou de gêmeos. O então arcebispo de Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, anunciou publicamente que o Código Canônico previa a pena de excomunhão automática para todos os envolvidos. Excetuou, apenas, a criança de nove anos, por imaturidade. Em seguida, manifestou-se o cardeal Giovanni Battista Re, titular da Congregação para os Bispos do Vaticano e presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, que considerou como “justa a excomunhão de quem provoca um aborto”. Até aí, nota-se a coragem do arcebispo de Recife, apoiada pelo cardeal romano, que também fez a defesa da cultura da vida. Não bastasse a estrondosa campanha midiática que sobreveio logo em seguida contra Dom José Sobrinho, também a CNBB encarregou-se de demolir o posicionamento dele. Por meio de seu secretário-geral, bispo Dom Dimas Lara Barbosa, a CNBB desautorizou a iniciativa do arcebispo de Recife e Olinda de anunciar a excomunhão. A CNBB atuou como se fosse a chefia da Igreja Católica no Brasil. Assim, desacreditou D. José Sobrinho. Em última análise, prevaleceu a impunidade: não ficam excomungados os envolvidos no aborto dos gêmeos. E, em mais um lance autodemolidor, entrou no jogo outro bispo do Vaticano, Dom Rino Fisichella, presidente da Pontifícia Academia para a Vida. Este, ao invés de condenar a cultura da morte, como seria sua obrigação, também desautorizou e desacreditou Dom José Sobrinho. Assim, acredito que a extinção deste órgão representativo eclesiástico seria uma medida oportuna e salutar, indispensável para que a Igreja Católica vença a grave crise que a aflige. 


P — O Vaticano tem conhecimento da situação? Apóia este viés revolucionário? 


R — O Vaticano tem conhecimento da situação. Chegou a tomar uma atitude, embora tímida, há alguns anos, em relação ao ex-frei Leonardo Boff. Houve também pronunciamentos de João Paulo II a este respeito em Puebla (México). Mas não há, desde o Concílio Vaticano II (outubro de 1962 a dezembro de 1965), infelizmente, uma voz clara e unívoca na Igreja, a respeito da questão socialista e comunista, como nos tempos de Leão XIII, S. Pio X, Pio XI e Pio XII. No plano doutrinário, houve a rejeição do marxismo na encíclica Centesimus Annus, de João Paulo II, editada em maio de 1991. Contudo, no plano prático, nota-se a contradição e a incoerência. Por exemplo: em 1974, o cardeal Agostino Casaroli, então Secretário de Estado do Vaticano, numa visita a Cuba, fez um pronunciamento que levava os católicos a não mais se oporem ao comunismo. Mais recentemente, já no pontificado de Bento XVI, o atual Secretário de Estado, cardeal Tarcísio Bertone, também numa visita a Cuba, emitiu declarações semelhantes às que fez o cardeal Casaroli. O que se observa é que dentro da Igreja Católica há um entrechoque de opiniões. Estas divergências envolvem tanto prelados quanto leigos. Os que discordam da política eclesial de aproximação e favorecimento do socialismo e do comunismo podem, de modo legítimo, se afirmar em estado de resistência. 





Os católicos estão vendo com os seus próprios olhos que a CNBB se coloca realmente como a "parte podre da Igreja". Trai a Esposa de Cristo para militar em favor de uma facção criminosa e de um esquema de poder comunista que contraria escandalosamente os princípios e orientações da Santa Igreja Católica. 



"Quem é o homem mais poderoso na CNBB". 







“Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos espinheiros”? 
(Mateus 7, 15-16) 






Referências: 



O Bispo de Guarulhos afirma: A CNBB não tem autoridade nenhuma sobre os bispos




D. Bergonzini recusou recomendação da CNBB e orientou os fiéis a não votar em candidata abortista — por André F. Falleiro Garcia — 12 agosto 2010 


• Entrevista — O papel nefasto da CNBB. 




O jornalista J. Martins entrevista o editor de Sacralidade sobre a CNBB, esquerda católica, reforma agrária e invasões rurais – Jomar Martins – 19 outubro 2009 


• A CNBB não é a Igreja Católica. 




Nota do Editor de Sacralidade a respeito da natureza jurídica eclesiástica e limites de competência da CNBB – André F. Falleiro Garcia – 07 março 2010 


• Carta à Congregação para a Doutrina da Fé




Os problemas criados “na” e “pela” CNBB , como a nova Campanha da Fraternidade e recente “Análise de conjuntura”, pedem uma atitude da Santa Sé para coibir abusos e desvios – Percival Puggina – 07 março 2010 


• Erros da Campanha da Fraternidade




Leigo atuante em movimentos da Igreja Católica manifesta consternação e tristeza pelos reiterados equívocos da CNBB – Percival Puggina – 06 março 2010 


• Novena de Natal: panteísmo, MST e luta de classes




O eco-socialismo expresso em Novena de Natal pelo Instituto de Pastoral Regional da CNBB – Klauber Cristofen Pires – 22 dezembro 2009 


• Apoio da CNBB a Toffoli: surpresa e perplexidade




Toffoli foi aprovado no Senado para ocupar vaga no STF. Seu currículo abortista e favorável ao "casamento" homossexual foi abonado por Dom Dimas, secretário-geral da CNBB – Paulo Roberto Campos – 28 outubro 2009 


• Posso votar no PT? — Uma questão moral




A mesma coerência que leva o PT a não tolerar defensores da vida em seus quadros, deve levar os cristãos a não votar nele – Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz – 14 agosto 2010 


• PT: partido ou religião?