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domingo, 17 de maio de 2020





O feminismo escrachado de “Eduardo e Mônica”. 



Acredito que todos devam conhecer a música “Eduardo e Mônica” da banda brasileira de rock/pop Legião Urbana. Também é inquestionável o talento e inteligência do letrista Renato Russo. Ele abordou vários temas em suas letras como a corrupção e o descrédito no país diante de tantos mal feitos em “Que país é esse”, as medidas antipopulares do governo Collor em “metal contra as nuvens” ou desilusões amorosas, como em “vento no litoral”. Porém, acredito que poucos tenham percebido a suavidade em que o Renato Russo ocultou um feminismo ácido na letra de uma de suas mais conhecidas canções: Eduardo e Mônica. 



Renato, como era do conhecimento de todos, era gay e militante ativistas das causas progressistas. 


Sem mais delongas, então vamos a letra e em seguida a análise. 



Eduardo e Mônica 


Compositor: Renato Russo 



Quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão? 

Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar
Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mônica tomava um conhaque
No outro canto da cidade, como eles disseram 

Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer
Um carinha do cursinho do Eduardo que disse
Tem uma festa legal, e a gente quer se divertir 

Festa estranha, com gente esquisita
Eu não tô legal, não aguento mais birita
E a Mônica riu, e quis saber um pouco mais
Sobre o boyzinho que tentava impressionar
E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa
É quase duas, eu vou me ferrar 

Eduardo e Mônica trocaram telefone
Depois telefonaram e decidiram se encontrar
O Eduardo sugeriu uma lanchonete
Mas a Mônica queria ver o filme do Godard 

Se encontraram, então, no parque da cidade
A Mônica de moto e o Eduardo de camelo
O Eduardo achou estranho e melhor não comentar
Mas a menina tinha tinta no cabelo 

Eduardo e Mônica eram nada parecidos
Ela era de Leão e ele tinha dezesseis
Ela fazia Medicina e falava alemão
E ele ainda nas aulinhas de inglês 

Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus
Van Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de Rimbaud
E o Eduardo gostava de novela
E jogava futebol de botão com seu avô 

Ela falava coisas sobre o Planalto Central
Também magia e meditação
E o Eduardo ainda tava no esquema
Escola, cinema, clube, televisão 

E mesmo com tudo diferente, veio mesmo, de repente
Uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia, como tinha de ser 

Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia
Teatro, artesanato, e foram viajar
A Mônica explicava pro Eduardo
Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar 

Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer
E decidiu trabalhar (não!)
E ela se formou no mesmo mês
Que ele passou no vestibular 

E os dois comemoraram juntos
E também brigaram juntos muitas vezes depois
E todo mundo diz que ele completa ela
E vice-versa, que nem feijão com arroz 

Construíram uma casa há uns dois anos atrás
Mais ou menos quando os gêmeos vieram
Batalharam grana, seguraram legal
A barra mais pesada que tiveram 

Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília
E a nossa amizade dá saudade no verão
Só que nessas férias, não vão viajar
Porque o filhinho do Eduardo tá de recuperação 

E quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão? 


A letra desta canção relata a história do romance entre duas pessoas totalmente distintas. O simplório e inexpressível Eduardo e a sofisticada Mônica. Não se iludam, essa diferença é proposital e foi posta por Renato exatamente para menosprezar a imagem masculina e exaltar a feminina. Isso ocorre do início ao fim. Todas as situações postas são colocadas em oposição onde o Eduardo (homem) é o lado tosco e fraco da história e a Mônica (mulher) é o supra sumo da existência. 

No começo, os versos iniciais já alertam para uma situação amorosa onde a paixão surgirá onde a razão não a endossará. “Quem um dia irá dizer, que existe razão, nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer, que não existe razão?" É lógico perceber que a razão é a Mônica e o Eduardo é a falta dela. Isso também nos remete ao lado intelectual onde a mulher é posta como capacitada e preparada e o homem, como um bronco das cavernas. 

Eduardo é preguiçoso “Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar, ficou deitado e viu que horas eram”, já a Mônica acorda cedo e já está na ativa, bebendo conhaque logo cedo? “Enquanto Mônica tomava um conhaque, no outro canto da cidade, como eles disseram.” Para o Renato isso era o último nível do refinamento. Vai entender. 

Depois de se encontrarem em uma “festa estranha, com gente esquisita” indicada por uma amiga da Mônica? Claro que não, se era “estranha” com “gente esquisita” tinha que vir do lado do Eduardo ou de um amigo seu. 

Eduardo é um ser fraco, que nem beber sabe que vai logo ficando bêbado, já a Mônica, aquela que toma conhaque ao escovar os dentes, essa não, é entendida e empoderada. 

O fraco Eduardo tem que ir cedo para casa pois necessita dar satisfação aos pais da hora e da forma que chega, “E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa. É quase duas, eu vou me ferrar”, enquanto que a Mônica não deve satisfação a ninguém. 

Eles trocam telefones e decidem se encontrar novamente, mas ficam indecisos sobre onde, se no sofisticado “filme do Godard” da Mônica ou na breguérrima lanchonete do Eduardo. Ganhou um campo neutro, o parque da cidade. A Mônica chega abalando em sua indelével moto, já o Eduardo, passa vergonha em cima do seu “camelo”

Provavelmente a Mônica tinha o cabelo de uma cor berrante, talvez vermelho ou verde, o Eduardo achou estranho, mas o que um simples mongol tinha a dizer para a deusa que se apresentava a sua frente? 

O menosprezo pelo Eduardo continua, ladeado pela exaltação à Mônica. O Eduardo é um adolescente medíocre e ao que parece a Mônica deve ser mais velha já que ela era de leão (?????). O Eduardo é um medíocre estudante com suas “aulinhas de inglês” (o diminutivo é depreciativo, neste caso. Novamente.), enquanto a magnânima Mônica “Ela fazia Medicina e falava alemão”. Chic nos últimos.

Culta? Só a Mônica que “gostava do Bandeira e do Bauhaus, Van Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de Rimbaud”, já a mediocridade cultural mora no desprezível Eduardo com seu gosto por novela e jogo de botão com seu avô. 

A Mônica era uma garota politizada que entre uma dose e outra de conhaque e outras coisitas mais, discutia sobre “o Planalto Central”. Ah! Ela também era mística e esotérica e praticava “magia e meditação”. Talvez fosse uma satanista zem ou uma descolada bruxa da Wicca. 

Já o mané do Eduardo, não conseguia sair do medíocre esquema “Escola, cinema, clube, televisão”

Porém, apesar destas diferenças absurdas, o amor surgiu entre eles.

Agora sim, quem sabe o otário do Eduardo consiga se tornar alguém mais refinado convivendo com a espetacular e indelével Mônica? 

Ela mostrou o supra sumo da cultura para o ogro Eduardo: “fizeram natação, fotografia, teatro, artesanato, e foram viajar.” 

Como Eduardo era um burrão, cabia a Mônica explicar toda e qualquer banalidade ou até mesmo os segredos do universo, como “coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar”. Pense numa cientista da NASA essa Mônica. 

E graças a Deus, a deusa Mônica (é claro) ensinou o gobira do Eduardo a beber, pois, ninguém mais aguentava o pinguço fazendo vergonha o tempo todo ao grupo seleto da divina Mônica. A santa Mônica também fez o milagre de fazer o vagabundo do Eduardo arranjar um emprego e voltar a estudar as ponto de passar no vestibular (mas, olha só que milagre estupendo!). 

O casalzinho de improváveis vão morar juntos e entre tapas e beijos, vai tudo bem. Faltou o Renato atribuir ao Eduardo toda a culpa pelas brigas do casal. Nessa ele falhou. 

A sacro santa Mônica engravida de gêmeos, mas pelo visto um puxou a ela e o outro ao burrão do Eduardo. Advinha qual? É lógico, o que ficou em recuperação e atrapalhou a viajem do casal. Só este é denominado de “filhinho do Eduardo” (filhinho também é colocado aqui de forma pejorativa): “Só que nessas férias, não vão viajar, porque o filhinho do Eduardo tá de recuperação.” 

Para encerrar esse SCUM manifesto feminista, o Renato retoma a parte da razão versus emoção, ou da inteligência versus a burrice, de Mônica versus Eduardo, da Mulher versus homem. 

“E quem um dia irá dizer, que existe razão, nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer, que não existe razão? 






Um comentário:

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